Nas últimas duas semanas, a média móvel de casos de covid-19 aumentou em 24 Estados e no Distrito Federal. A média do País cresceu 100,3% no período, conforme dados do consórcio de veículos de imprensa. O número que era de 14.644, no dia 22 de maio, passou para 29.342 no domingo, 6, após oito dias de alta. Com isso, voltou aos níveis do final de março deste ano.
O Brasil registrou 80.603 novos casos da covid-19 nesta terça-feira, 7. A média móvel de testes positivos, que elimina distorções entre dias úteis e fim de semana, ficou em 35,2 mil, o que representa um aumento de 138% em relação à de duas semanas atrás, mas ainda abaixo do patamar registrado no início do ano, quando havia predominância de circulação da variante Ômicron.
O aumento repentino nos casos se deve à maior circulação do coronavírus, que tem avançado em 24 Estados e no Distrito Federal, mas também a um represamento de dados desde o último 2, quando os sistemas do governo federal, incluindo o Sivep-Gripe, começaram a apresentar instabilidade.
Há cerca de um mês, a média móvel de novos casos passou a apresentar tendência de alta e isso explodiu na última semana, quando o número de novos casos diários ficou em torno de 30 mil, um aumento de cerca de 107%, em comparação com duas semanas antes. O aumento dos diagnósticos positivos já se reflete no sistema de saúde. Em pelo menos sete unidades da federação houve aumento de internações e atendimentos, embora o número de óbitos não tenha acompanhado.
“Não há dúvida que já estamos vivendo uma nova onda de Covid-19. O aumento do números de casos ocorre de forma concomitante no país inteiro”, afirmou o infectologista Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
O cenário nos estados é reflexo do aumento de casos no país. Somente nas farmácias, segundo levantamento da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), os testes positivos para Covid-19 saltaram 326% em maio. No total, foram registrados 136.117 mil novos casos, um número mais de quatro vezes maior que os 31.981 do mês de abril
Dados do último Boletim InfoGripe Fiocruz mostram que a Covid-19 já responde por 59,6% dos pacientes hospitalizados por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no país. É a terceira semana consecutiva que as ocorrências da doença se mantêm predominantes entre os casos de SRAG. No boletim anterior, as infecções pelo coronavírus eram 48% dos casos positivos.
Um dos reflexos dessa alta pode ser visto no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, que voltou a dedicar duas alas inteiras para pacientes com Covid-19. A estrutura havia sido dispensada em abril, época em que a prevalência de testes positivos para a doença não ultrapassava 10% dos exames realizados. Hoje, a contagem chega a 30%.
De acordo com a secretaria estadual de Saúde de São Paulo (SES-SP), ontem foram 510 novas internações no estado, nos hospitais públicos e privados, elevando a média móvel a 505 por dia. Em comparação com o dia 7 de maio, houve um aumento de 182%. Os dados mostram ainda que a ocupação de leitos de enfermaria na região metropolitana chegou a 49,7% e os de UTI, a 52,2%.
NOTA TÉCNICA CONTRARIA QUEIROGA E RECOMENDA MÁSCARAS
A área técnica do Ministério da Saúde contrariou o ministro da pasta, Marcelo Queiroga, em nota técnica divulgada no último sábado (4), ao apontar a importância do uso de máscaras em meio a uma nova alta dos casos de Covid-19 no país.
“Além disso, medidas não farmacológicas (distanciamento e uso de máscaras) devem ser encorajadas no atual momento epidemiológico”, diz o texto do ofício da Saúde que liberou a quarta dose da vacina contra a Covid para pessoas a partir de 50 anos. A média móvel de novos casos mais do que dobrou em relação à registrada duas semanas atrás.
Queiroga, no entanto, já colocou em xeque diversas vezes os benefícios do uso de máscaras. “O uso obrigatório de máscara não tem benefício comprovado. O que funciona é as pessoas aderirem às políticas, e isso é mais efetivo. Se você quer usar máscara, usa”, voltou a dizer nesta segunda-feira (6), durante cerimônia em que tomou a quarta dose da vacina – e dois dias depois da publicação da nota técnica da pasta que comanda.
Ainda no sábado, Queiroga tinha alegado que “não há motivo para obrigar o uso de máscaras”. “Se você quer usar máscara, você use. As pessoas se sentem confortáveis usando máscara, podem usar. Não tem problema. Agora, nós entendemos que, no momento atual, não há motivo para obrigar o uso de máscaras”, disse à TV Record.
Na sexta-feira (3), o ministro tinha afirmado que “a obrigatoriedade do uso de máscaras é uma bobagem sem precedentes”. Na quinta-feira (2), Queiroga fez alegação parecida ao dizer que usar máscara ou não “é um direito de cada um”. Em entrevista à Folha, ele já havia afirmado que a máscara, “às vezes, serve até como posicionamento político”.