O Rio de Janeiro apresenta crescimento da letalidade policial desde que Wilson Witzel (PSC) tomou posse como governador do estado em 1º de janeiro de 2019. No primeiro trimestre deste ano, já foram registrados 434 homicídios decorrentes de intervenção policial, uma média de quatro por dia.
Segundo um levantamento com base em dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), o número de mortos classificados como “em confronto” nos primeiros 90 dias de 2019 é o mais alto entre os registrados nos 85 trimestres desde 1998, quando começou a contabilizar o tipo de estatística no estado.
Cinco dos oito trimestres com mais casos desde o início da série histórica são justamente os cinco mais recentes: os quatro de 2018 e o primeiro de 2019. Em comparação com os primeiros três meses do ano passado, o mesmo período deste ano apresentou um aumento de 18% nas mortes. Antes de 2018, o estado nunca havia ultrapassado a marca de 400 mortes pelas mãos de policiais em três meses.
No estado do Rio de Janeiro, 28% de todas as mortes violentas registradas no primeiro trimestre de 2019 foram cometidas pela polícia. A parcela de homicídios cometidos por policiais vem crescendo em relação à quantidade total de mortes ano a ano. Durante todo o ano de 2018, a porcentagem chegou a 22%. No ano anterior, eram 16%.
Em três regiões do estado, a polícia foi responsável por mais da metade de todas as mortes violentas registradas no primeiro trimestre de 2019. A região em que mortes pela polícia correspondem à maior fatia do total de assassinatos é a patrulhada pelo 16º BPM (Olaria), que engloba o Complexo do Alemão. Do total de 27 mortes violentas registradas na área de janeiro a março de 2019 , número que engloba homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes em confronto, 14, ou 59% do total, foram cometidas por policiais.
Na área do 3º BPM (Méier), 24 das 46 mortes violentas, 52% do total, foram registradas como homicídios decorrentes de intervenção policial. Já na área do 5º BPM, 14 das 27 mortes, ou 51%, aconteceram em confrontos.
Durante entrevista concedida ao portal PONTE, Jacqueline Muniz, cientista política e criadora do ISP, afirmou que os números mostram uma lógica cíclica no Rio e repetida por Witzel.
“Governantes sem políticas públicas, sem programas de ações consistentes, fazem essas bravatas exatamente porque não podem ser avaliados por não ter o que entregar. Toda vez que Witzel diz ‘vou dar tiro na cabecinha’, ‘vamos reprimir mais’, ele está vendendo um produto que não pode entregar. Qual sua ação, seu plano de segurança? Como não tem, usa discurso catártico de lei e ordem. Toda vez que não tem plano e não governa as polícias, você fica brincando de animador de auditório de festa infantil. O problema disso é que, em um primeiro momento, ele parece que comanda, mas é só aparência. Em breve, ele tende a ser algemado pelo próprio discurso que ele produziu porque a repressão por ela mesma gera escassez no recurso repressivo e na capacidade de se policiar.
Ao ser questionada se o aumento dos assassinatos cometidos por policiais tem relação com o combate ao crime organizado ela diz: “A letalidade no Rio de Janeiro não aumentou porque o crime ficou pior, ficou mais feio, ela não segue alta por isso. O que está em jogo é seguir iludindo os policiais com aparência de heroísmo porque o que está em jogo é uma economia milionária, da indústria do crime, dos brinquedos de guerra. É um marketing macabro. Quando não se tem mecanismos profissionais de controle do uso da força, nem no RJ nem em lugar nenhum do Brasil, quando o governante, o governador que é o comandante geral das polícias e não os chefes da PM ou Polícia Civil, manda esse recado, está dando autorização covarde porque ele não vai pagar a fatura dos policiais. Ele vai pagar o trauma da família do policial que morreu? O trauma da população que perdeu alguém por bala perdida? Não vai. Esse cheque em branco para as organizações, isso [letalidade] aumenta sempre que tem esses estímulos”, completou.
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