O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirma que o “negacionismo” do presidente da República, Jair Bolsonaro, fez com que medidas para garantir salários, proteger empresas e distribuir renda a informais e desempregados demorassem para ser anunciadas, causando um problema social.
“Meu diagnóstico é que o Brasil se defronta com duas patologias, duas doenças. Uma, no sentido estrito da palavra, que são as síndromes derivadas do coronavírus. A outra doença é uma patologia política que atende pelo nome de bolsonarismo ou Bolsonaro. Temos que cuidar de uma de cada vez”, avaliou o governador, em entrevista a Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
O governante estadual criticou as ações que vêm sendo adotadas pelo governo federal junto à população, à economia e à política. Segundo Dino, só há duas posições agora: de um lado, quem defende medidas preventivas; e, de outro, quem acha normal que pessoas morram. “Claro que esperamos que o mais breve possível seja viável rever certas restrições. Mas, no momento, o consenso científico é de que o distanciamento ou isolamento social é o único caminho que temos”, observou.
Ele condenou, por exemplo, a possibilidade de separar do convívio social apenas idosos e pessoas mais suscetíveis à doença – o chamado “isolamento vertical” que vem sendo defendido por Bolsonaro.
“Em meio à política de distanciamento social visando a amenizar a propagação do vírus e garantir o famoso ‘achatamento da curva’ da pandemia, houve a introdução desse elemento exótico. Esse suposto ‘isolamento vertical’ não é praticado, simplesmente, em lugar algum do mundo. Nem o próprio Ministério da Saúde sabe explicar como se faz isso”, assinalou.
Para Flávio Dino, dizer que “os fortes vão trabalhar e os fracos ficam em casa” reproduz uma ideologia “de inspiração eugenista, quase que de corte nazista” que leva em conta que esses supostos fortes não teriam contato com os fracos. “Ora, como faz isso? O governo vai dar casas para as pessoas? Para quem tem algum tipo de imunodeficiência ou para os idosos? É uma insensatez. É um descompromisso com a seriedade que deve inspirar o presidente da República”, disse.
“Quando fazemos essa crítica ao presidente da República, não é apenas pelo poder simbólico, que já é grave, das palavras agressivas e ofensivas que profere. Mas seus discursos, na prática, ditam diretrizes para sua própria equipe de governo. Isso implica inércia, confusão, lacunas que, até aqui, estamos vendo em todos os planos, menos no sanitário – porque o ministro da Saúde e boa parte de sua equipe estão muito empenhados em tentar ajudar”, frisou.
Flávio Dino observou que a postura de Bolsonaro tem produzido consequências nefastas também no terreno econômico.
“O negacionismo que professou durante semanas fez com que o governo brasileiro tenha sido o último a anunciar medidas econômicas. Ele conseguiu ficar atrás do Donald Trump. Todos os países estão as concretizando, nós ainda estamos no terreno dos anúncios. Há três semanas, anunciaram o benefício de R$ 200, que, corretamente, a Câmara dos Deputados elevou para R$ 600. Mas as famílias estão precisando agora. Ele anunciou um pacote para os estados – de suspensão, de benefícios, de crédito, e nós estamos ainda aguardando as medidas práticas”, denunciou.
Indagado sobre as motivações desse comportamento do presidente, o governador maranhense opinou:
“Bolsonaro só sabe adotar um único comportamento político, que, na visão dele, é bem-sucedido. Um sentido egoísta do conceito de sucesso que faz com que ele acredite que esse método extremista, atrapalhado, atabalhoado e agressivo seja certo. Ele não entende outro código, outro dicionário, outra gramática. Em relação aos governadores, essa má vontade é evidente. Ele mesmo convidou governadores para reuniões regionais. Nós fomos. Uma prova de gentileza, de educação e de colaboração. No dia seguinte, desfez tudo que havia proposto no que se refere ao clima de entendimento e de diálogo. É uma espécie de patologia política que é professada pelo Bolsonaro”.
Ao avaliar possíveis alternativas no campo institucional, ele não descartou o impeachment como uma das possibilidades de saída para o impasse em que o país foi colocado. Segundo Dino, o ideal seria que Bolsonaro terminasse seu mandato, mas avalia que o país e as instituições têm um limite do que podem suportar. “Se diante da gravidade da perda de uma vida humana, ele menospreza, fico a imaginar: o que poderia fazer com que ele mudasse?”.
O governador ressaltou que seus colegas do Nordeste unanimemente afirmaram que vão manter, por enquanto, as medidas restritivas cabíveis com um senso de gradação e de proporcionalidade.
No enfrentamento à Covid-19, o Maranhão registrou domingo (29) o primeiro óbito pela doença.
O país chegou a 4.579 casos confirmados do novo coronavírus no Brasil com 159 mortos, 98 deles em São Paulo.