IACO MARTINS
O viaduto, alça de acesso dos carros cedeu, desandou e a cidade respirou mais caos do que o normal. Bem ali na marginal Pinheiros, onde milhares de pessoas passam todos os dias no vai e vem frenético do ganha pão diário.
Indignação, memes, acusações, especulações e comparações com os países desenvolvidos surgiram rapidamente inundando as redes sociais. Os noticiários, fazendo aquele acompanhamento maçante sobre o fato já consumado, onde repórteres usam de toda a sua criatividade para criar assunto, de um assunto já explicado. Imediatamente começou a justa preocupação com os outros inúmeros viadutos e pontes que ligam São Paulo entre os pontos cardeais; em qual real estado de conservação eles estão? A vistoria com um olho na viga e a mão na xícara de café se mostrou ineficaz.
E quem assistiu a cobertura pela TV, viu um vídeo na internet ou passou na pista local da marginal reparou em um outro desastre de proporções ainda maiores, bem atrás do viaduto? O Rio Pinheiros, praticamente morto e esquecido. É de cortar o coração saber que esta enorme força das águas esteja em estado mórbido há tantos anos e que ninguém se sensibilize mais com o seu estado agonizante. Pior ainda, é acusado de atrapalhar o trânsito se o seu volume de águas imundas crescerem por conta das chuvas e vierem a cobrir a pista dita expressa.
Depois quando as chuvas se vão e a secura se instaura, os reservatórios começam a baixar, os repórteres começam a caçar assunto com a crise hídrica e um rio que corta a cidade continua abandonado e semimorto servindo apenas como justificativa para pontes e viadutos. Tanta água a vista, e o racionamento começa a perturbar os cotidianos. São os paradoxos da vida.
Sonhar com um rio navegável, com uma orla disposta ao lazer dos paulistanos está tão distante… e mesmo que neste sonho, hoje em dia ela estivesse pronta, estaria interditada pelo desandar do tal viaduto!
Os debates eleitorais trouxeram a promessa do governador eleito João Dória de trabalhar para despoluir o Rio Pinheiros. Será que existe algum projeto real, viável e que capitalize o rio? A única chance dele voltar a ter uma vida digna seria render dinheiro ao governador que ama o capital, ops, a capital. Vamos aguardar para ver se o viaduto se endireita, se o rio se acerta ou se a música de Cássia Eller toca mais alto ao dizer: Palavras apenas, Palavras pequenas
Palavras”….
Iaco Martins, acreano, professor, coordenador da Escola Cultural Zungu Capoeira e autor do livro Um Roteiro Inusitado – do Acre à Indonésia com os pés na capoeira.