O astrólogo e guru de Jair Bolsonaro, Olavo de Carvalho, deu orientações para que Sara Giromini, conhecida como Sara Winter, organizasse o acampamento “300 do Brasil” para “botar medo, humilhar e desmoralizar”, com “técnicas de subversão”, o Supremo Tribunal Federal (STF) e os opositores do governo, mostram mensagens interceptadas pela Polícia Federal.
As mensagens, trocadas no primeiro semestre de 2020, foram obtidas e divulgadas pela revista CrusoÉ.
Além de Olavo de Carvalho, estão envolvidos nas mensagens que mostram a organização dos ataques à democracia os blogueiros Allan dos Santos, que está escondido nos Estados Unidos com uma ordem de prisão, e Oswaldo Eustáquio, que foi preso.
No dia 2 de abril de 2020, cerca de um mês antes do acampamento “300 do Brasil” ser montado em Brasília, Sara Giromini enviou em um grupo de Whatsapp uma mensagem dizendo que passara “mais de uma hora ao telefone com Olavo” e que o astrólogo fizera “solicitações SÉRIAS e até ARRISCADAS”.
Em seguida, informa ao grupo que está indo conversar com Allan dos Santos sobre as orientações dadas por Olavo. “Vou precisar da ajuda de todos. Desire [uma participante] vai passar algumas coisas pra vocês, estou indo lá pro Allan falar com ele”.
Sara fala aos participantes do grupo que precisa de uma plataforma mais segura do que o Whatsapp e Telegram, porque “tenho coisas importantes pra falar sobre desobediência civil”.
O plano de Olavo de Carvalho era “botar medo, humilhar, desmoralizar esse bando de pilantra”, informa Sara aos colegas.
O grupo ainda organizou um “treinamento” para os que participassem do acampamento. “Serão 10 horas de TREINAMENTO gratuito em técnicas de protesto, técnicas de subversão. Dia 30 começaremos atos coordenados com estratégia”.
Além do acampamento em Brasília, o grupo tinha uma fazenda alugada em que fazia tais “treinamentos”.
Como líder do grupo, Sara Giromini chegou a dizer que membros do acampamento estavam armados, mas depois teve que recuar e se desmentir por conta da reação das autoridades policiais.
Os membros do “300 do Brasil” fizeram uma marcha, usando máscaras e segurando tochas, até o prédio do Supremo Tribunal Federal. O grupo fascista soltou fogos de artifício contra o prédio da Corte, simulando um ataque.
Durante o acampamento, Sara pediu a seus colegas que fossem a uma reunião “com roupa que você iria pra guerra”.
Para Allan dos Santos, Sara Giromini enviou a seguinte mensagem: “Queria falar contigo. Passei uma hora com professor Olavo ontem no telefone. Ele me solicitou algumas coisas sérias e preciso de ajuda. Não confio em qualquer um para falar”.
Em mensagem enviada para Oswaldo Eustáquio, Sara afirma que está organizando, junto com outras pessoas e “sob a orientação do professor Olavo de Carvalho”, o acampamento.
A PF também interceptou mensagens enviadas de Sara para o organizador da “Marcha para Brasília”, que se fundiu com os “300 do Brasil”.
“Concordamos em unir os atos. A Marcha para Brasília e o Acampamento dos 300. Vocês estão seguros para começar essa marcha já dia 26? Porque ainda não temos barracas, nem refeições, nem banheiro químico, nem nada. Estamos orçando no dia de hoje para correr atrás de fundos. Pro povo não chegar aqui e ficar no meio da rua sem banho, sem comida, sem nada”. “Acho que podemos ir chegando no dia 26. Dar até o dia 28 pro povo chegar”.
As investigações feitas pela Polícia Federal identificaram que parte do financiamento dos “300 do Brasil” veio do gabinete de parlamentares bolsonaristas. Os deputados federais Bia Kicis, Aline Sleutjes, Guiga Peixoto e General Girão fizeram pagamentos a uma mesma empresa de marketing, ligada ao proto-partido Aliança pelo Brasil.
A empresa, por sua vez, passava os valores, que chegaram a R$ 30 mil, para o acampamento golpista.
A PF também identificou que Sara Giromini procurou o milionário Luciano Hang, bolsonarista de carteirinha e dono das lojas Havan, para conseguir financiamento para suas ações.
Ao mesmo tempo em que orientava seus “alunos” a fazerem essas ações, Olavo de Carvalho tentava articular apoio dentro das Forças Armadas. Em uma publicação nas redes sociais, Olavo afirma que “só o que os militares têm de fazer é oferecer apoio armado às iniciativas populares. Patriotismo sem humildade é loucura”.
O acampamento foi fechado em junho de 2020 pela Polícia do Distrito Federal. Sara Giromini e outros organizadores das marchas foram presos por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Quando saíram da prisão, eles passaram a usar tornozeleira eletrônica e tiveram suas atividades nas redes sociais suspensas.