O prefeito eleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM), voltou a falar sobre a vacinação contra a Covid-19, nesta terça-feira (8), após ter conversado com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), a compra de doses da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
Na segunda-feira, Doria havia dito que o futuro prefeito do Rio havia lhe pedido lote de vacina, pois não queria esperar até março, mas, horas depois, Paes disse que aguardaria o Programa Nacional de Imunização. Nesta terça-feira, após a entrega do Prêmio “Líderes do Rio”, no Hotel Fairmont, em Copacabana, Paes voltou ao assunto.
“Ele (Doria) não faltou com a verdade, eu disse que gostaria de discutir, sim, o tema. Mas não se discute pela imprensa, precisa discutir entre técnicos”, afirmou Eduardo Paes e completou: “Se pudesse, eu tomava hoje e aplicava em todo mundo hoje. Eu manifestei uma angústia, que acho que todos nós temos. Ele tem razão, não quero esperar até março, quero que chegue amanhã, mas é questão muito técnica para fazer interpretação de expressões que a gente utiliza”, ressaltou.
Paes disse que ainda aguarda o estabelecimento de uma coordenação nacional para a imunização dos brasileiros. O próprio Rio de Janeiro deverá produzir as vacinas, por meio da Fundação Osvaldo Cruz, desenvolvidas pelo laboratório inglês AstraZeneca junto à Universidade de Oxford.
No entanto a falta de clareza por parte do Ministério da Saúde e do ministro Eduardo Pazuello sobre o tema deixam estados e municípios em uma situação complicada. Na terça-feira, durante reunião com governadores, Pazuello reafirmou que a vacinação só deve ter início em março de 2021 e que a Anvisa deve levar até 60 dias para validar qualquer vacina contra o coronavírus.
O ministro voltou a ignorar a vacina desenvolvida pelo Butantan e Sinovac, que está em processo de registro na agência reguladora. O fato foi cobrado pelos governadores presentes na reunião, dentre eles, João Doria, que cobrou imparcialidade com as possíveis vacinas por parte do governo federal
O Butantan já recebeu pedidos de vacinas das Federações dos Municípios do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, além de mais de 50 cidades de forma avulsa. No total, já são 850 os municípios interessados em adquirir a CoronaVac.
Pandemia avança no Rio de Janeiro
A situação do Rio de Janeiro em relação à pandemia de Covid-19 é crítica. O estado vive colapso na saúde, agravado pela recorrente falta de pagamento de profissionais.
A fila vem crescendo e chegou a 491 pessoas na rede pública nesta terça (8), sendo que 251 delas precisavam de terapia intensiva. Há apenas um mês, esses números eram de 76 e 30, respectivamente.
A ocupação de UTIs é de 91% na rede pública da capital (os hospitais municipais não têm nenhuma vaga) e de 76% na rede estadual.
Grande parte dos médicos, enfermeiros e outros profissionais da rede municipal estão trabalhando sem receber pagamento pelo trabalho que fizeram em novembro, assim como auxílios de transporte e alimentação.
Isso inclui os servidores do hospital de campanha e do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, de referência para a Covid-19. Os atrasos e as más condições são o motivo de muitos terem aproveitado o fim dos contratos emergenciais e deixado o município, agravando a situação de um sistema que já sofre com a falta de servidores.
O estado fechou todos os hospitais de campanha, e o município reduziu equipes que trabalhavam no único que sobrou, o Riocentro. A rede federal, apesar de grande no estado, também foi reduzida.
“Corremos o risco de ficar como Manaus no início da pandemia”, diz Carlos Vasconcellos, diretor de comunicação do sindicato de médicos (Sinmed/RJ). “O governo sinalizou com um aumento de leitos, mas o vírus não acompanha a velocidade do governo. Além disso, os leitos anunciados não são suficientes para a fila que temos.”
Estão previstas mais 130 vagas estaduais até o dia 18 e mais 170 municipais nas próximas duas semanas, usando leitos que já existem mas estão bloqueados, principalmente por falta de profissionais.
Muitas unidades pré-hospitalares, como UPAs (unidades de pronto atendimento), estão lotadas, com pacientes aguardando em cadeiras e sem atendimento adequado, apesar de a prefeitura argumentar que eles estão sendo assistidos.
“Todas as unidades de Covid que visitei na semana passada estavam lotadas, municipais, estaduais e federais. E as UPAs não têm o que é necessário para manter pacientes graves, só têm leitos de estabilização para ficar menos de 24 horas”, afirmou a defensora pública Alessandra Nascimento, que atua na área de saúde.
Ela diz que a situação é pior agora para conseguir leitos do que no início, quando a pandemia atingiu primeiro a rede privada e depois a pública. Como o colapso afeta as duas redes, quem consegue ordem judicial para transferência não encontra nem vagas particulares.
Alessandra ressalta também que a falta de leitos sempre foi um problema no Rio de Janeiro. “Sempre funcionou assim indevidamente, com pacientes internados nas UPAs, mas agora tivemos agravamento do quadro. E quando passar a crise isso ainda vai existir”, afirmou.
Até o momento, tanto o governador em exercício Cláudio Castro (PSC) como o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) prevêem mais 130 vagas estaduais até o dia 18 e mais 170 municipais nas próximas duas semanas, usando leitos que já existem, mas estão bloqueados, principalmente por falta de profissionais.
Ambos sustentam que a testagem em massa, associada à fiscalização de eventos e a abertura de vagas nos hospitais são suficientes para conter a pandemia, mas não implementam as medidas, nem em separado, nem conjuntamente, como seria eficaz.