Um prédio desabou, na madrugada desta quinta-feira (3), na comunidade de Rio das Pedras, na zona oeste do Rio de Janeiro. Um pai e sua filha de 2 anos e 8 meses morreram no desabamento.
O prédio que estava em situação irregular foi construído na região de Rio das Pedras controlada pelas milícias.
Desde o acontecido, cerca de 200 socorristas do Corpo de Bombeiros, de cinco quartéis trabalham no local com os resgates das vítimas presas aos escombros com a ajuda de cães.
O secretário de Defesa Civil e comandante do Corpo de Bombeiros, Leandro Monteiro, alertou que há risco de novo desabamento:
“Estamos utilizando cães, removendo com muito cuidado porque corre risco de um novo desabamento, então tem prédios ao lado, são vidas que estão ali, então estamos trabalhando com muita cautela e calma para localizar as vítimas”, afirmou.
Outras quatro vítimas foram levadas para o Hospital Lourenço Jorge, na Barra. A Secretaria Municipal de Saúde informa que uma paciente de 28 anos continua internada com quadro estável. Já tiveram alta outra mulher com 38 anos e um homem com 29.
O coronel Monteiro fez um apelo para que moradores dos prédios vizinhos deixem as casas por risco de mais desabamentos. Técnicos da Defesa Civil Municipal avaliam os danos que foram causados em outras quatro edificações (uma à direita e três à frente) e se haverá necessidade de outras interdições. A Defesa Civil faz a avaliação da estrutura dos prédios afetados.
Autuar quem, o miliciano?
O presidente do Conselho Regional de Engenharia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Luiz Cosenza, falou sobre as dificuldades que os fiscais enfrentam para trabalhar em áreas controladas por milicianos.
“Você vai autuar quem, o miliciano? O nosso fiscal não tem condição de entrar, porque até a polícia tem dificuldade”, disse em entrevista à Globo News.
O presidente do Crea-RJ também reclamou da falta de punição aos envolvidos em construções irregulares. Ele citou o projeto de lei que criminaliza o exercício ilegal da engenharia, que está tramitando na Câmara dos Deputados há quase 20 anos.
O prefeito Eduardo Paes e o governador Cláudio Castro estão no local. Os dois subiram juntos numa laje próxima ao desbamento para ver os estragos da queda do prédio.
Logo ao sair da área de isolamento dos Bombeiros, o prefeito do Rio reconheceu a situação complexa da região, que há décadas vem passando por construções desse tipo. O foco agora, segundo ele, é fiscalizar os prédios já existentes e evitar que novos sejam erguidos. “Comigo, milícia não vai mais construir porcaria nenhuma nessa cidade”, afirmou.
O prefeito disse que vai tentar combater a construção de novos edifícios irregulares na cidade e que a Prefeitura já tem atuado em demolições, mas que esse tipo de moradia “é uma realidade da cidade”. “Ninguém vai construir mais nada nessa cidade de maneira irregular. Só essa semana foram três operações”, afirmou Paes a jornalistas.
Questionado sobre uma suposta dificuldade de fiscalizar construções em áreas sabidamente controladas por grupos milicianos, Paes disse que a presença dos criminosos não impede o trabalho sob sua gestão. “Comigo não impede nunca, não tem essa conversa”, disse.
Ele atribuiu a responsabilidade pela expansão das construções irregulares por milicianos às gestões anteriores à dele.
“Nem milícia, nem traficante, nem delinquente se sobrepõe ao poder do Estado. Isso é falta de vergonha na cara das autoridades que permitiram que esse tipo de coisa acontecesse”, enfatizou o prefeito.
Paes reiterou que, desde o começo do ano, a Prefeitura tem demolido construções irregulares na cidade. E ponderou que não é possível destruir todos imóveis nesta condição, devido à configuração habitacional do Rio, mas investir em melhorias.
“É uma realidade da cidade. Não vamos retirar todas as casas de todas as favelas do Rio, ou de todas as comunidades do Rio. O que se tem que fazer é olhar essas áreas com mais risco, olhar essas construções para tentar fazer e produzir melhorias habitacionais”, enfatizou Paes.
Sobre o prédio que desabou nesta madrugada em Rio das Pedras, Paes disse que a prefeitura irá “prestar todo o auxílio” para as famílias atingidas. Ele destacou, ainda, que vai aguardar laudo técnico da Defesa Civil sobre os imóveis vizinhos ao que desabou, mas que “provavelmente vão ser condenados” devido aos danos provocados pela queda do prédio que foi ao chão.
Berço das milícias
Rio das Pedras é considerado o berço das milícias do Rio de Janeiro e o comércio de imóveis irregulares é um dos principais ramos financeiros do grupo paramilitar. Foi lá também que se organizou o chamado Escritório do Crime, braço armado da milícia cuja função é a de realizar assassinatos por encomenda.
Um dos líderes do Escritório do Crime foi Adriano Magalhães Nóbrega, o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), que foi morto por policiais na Bahia durante confronto.
Adriano da Nóbrega recebeu homenagens do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, filho de Jair Messias Bolsonaro. Flávio também empregou em seu gabinete a mãe e a mulher de Adriano da Nóbrega por mais de uma década.
Foi também em Rio das Pedras que Fabrício Queiroz, ex-policial, ex-assessor de Flávio e amigo pessoal de Jair Bolsonaro se escondeu quando o caso das rachadinhas no gabinete da Alerj vieram à tona.
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