“Tudo está privatizado no Chile por um sistema neoliberal imposto pela ditadura de Augusto Pinochet de acordo com a teoria econômica de Friedman, dos Chicago boys, que pôde ser implantado ferozmente porque não havia representação dos trabalhadores e, no fundamental, não mudou até agora”, disse a escritora Isabel Allende, sobrinha do ex-presidente Salvador Allende, denunciando a situação do país que era apresentado como paraíso econômico pelo neoliberalismo.
Considerada a escritora viva mais lida da língua espanhola, em coletiva de imprensa em Barcelona, Isabel denunciou que o levante popular que acontece no país tem sua origem na desigualdade.
“O Chile aparece nas estatísticas como um oásis na América Latina, mas os números não mostram a distribuição de ingressos, e as desigualdades, das mais injustas do mundo”, ressaltou.
Lembrou que no Chile 1% da população detém 25% da riqueza nacional, em uma situação em que 40% de seus compatriotas não consegue sequer pagar os serviços básicos.
“O capital teve toda a liberdade possível sem ter o contrapeso democrático de sindicatos, partidos políticos, da representação cidadã, e este modelo, aplicado em 1980, se manteve durante 30 anos” mantido pelos governos que se apresentaram como democráticos, censurou.
Para Isabel Allende, a faísca que fez estourar as atuais exigências foi o aumento do preço do metrô, iniciando o maior protesto em décadas, de todas as idades e classes, em que “as pessoas reclamam não só pela pobreza como também pela desigualdade, que é um insulto”, insistiu.
A escritora, que têm 23 títulos publicados e seus livros traduzidos para 42 línguas, recebeu o Prêmio Internacional de Novela Histórica Barcino que a Prefeitura de Barcelona, na Espanha, concede. O júri destacou seu “envolvimento pessoal com a época que vive”, dando, como exemplo, o golpe de Pinochet em 11 de setembro de 1973, que a empurrou ao exilio.
Foi ressaltado ainda seu livro ‘Longa pétala de mar’, sobre a viagem transatlântica que o poeta Pablo Neruda organizou a bordo do navio Winnipeg para que 2.200 espanhóis pudessem chegar ao Chile em 1939 e recuperar suas vidas truncadas pela guerra civil. “Isabel Allende sente aquilo que escreve. Tem setenta milhões de leitores em todo o mundo o sabem”, concluiu o jurado.
