Recordando os sete anos da viagem realizada à ilha italiana de Lampedusa, sua primeira visita fora do Vaticano como papa, Francisco denunciou nesta quarta-feira “o inferno” vivido pelos migrantes líbios e fez uma conclamação para que o mundo termine com a sua tragédia.
“Penso na Líbia, nos campos de detenção, nos abusos e na violência que sofrem os migrantes, nas viagens sem segurança, esperando salvamento e sendo repelidos”, declarou o papa, frisando que o destino de milhares de homens, mulheres e crianças continua extremamente sombrio. “A guerra é ruim, sabemos, mas vocês não imaginam o inferno que se vive lá, nesses campos de detenção”, frisou Francisco, utilizando a palavra alemã para “campos de concentração”.
Na cerimônia celebrada na capela Santa Marta com um número limitado de participantes, devido à pandemia, o papa exortou as autoridades e católicos a “fazerem um exame de consciência” e denunciou a “versão destilada” que chega a todos, abrandando o imenso sofrimento vivenciado pelos migrantes.
“Lembro-me daquele dia. Alguns me contaram suas próprias histórias, o quanto sofreram para chegar ali. E havia intérpretes. Alguém me contava coisas terríveis em seu idioma, e o intérprete parecia traduzir bem; mas o primeiro falou muito, e a tradução foi breve”, contou Francisco, sem ser fiel à gravidade dos fatos. No mesmo dia, mais tarde, relatou, “encontrei uma filha de etíopes que entendia o idioma e assistiu o encontro pela televisão”. “E ela me disse isso: ‘Desculpe, o que o tradutor lhe disse não é nem um quarto da tortura, do sofrimento que eles experimentaram'”, acrescentou. E esta versão “filtrada” é “minimizada”, lamentou.
O papa defendeu que é preciso pôr fim à “globalização da indiferença”, também explicitada na multiplicação de mortes no mar do Mediterrâneo.
Para conter o fluxo de migrantes, a Itália e a União Europeia têm investindo milhões de euros na guarda costeira da Líbia para aumentar sua capacidade de patrulhar suas costas. Este comportamento, denunciam as entidades defensoras dos direitos humanos, os tornam cúmplices das barbaridades praticadas.