
O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, propôs nesta segunda-feira (4), em um dos tópicos de seu projeto contra o crime, que fique explícito na lei que milícias, assim como facções do tráfico de drogas, são organizações criminosas. “Isso pode ter um efeito importante se aprovado e manda um recado claro que estas organizações estão fora da lei”, explicou o ministro.
A medida atinge em cheio o clã dos Bolsonaro. Flávio, filho do presidente e senador eleito, prestou homenagens a milicianos no Rio de Janeiro no período em que foi deputado estadual, e o próprio Jair Messias Bolsonaro defendeu publicamente, por diversas vezes, a atuação de milícias e de grupos de extermínio. Segundo ele, esses grupos são bem-vindos e terão o seu apoio. Observe um de seus pronunciamentos a respeito.
“Enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio”, afirmou Jair Messias Bolsonaro, em pronunciamento feito da tribuna da Câmara Federal em 2003.
Em discurso feito na tribuna da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), em 2007, o então deputado estadual Flávio Bolsonaro defendeu as “milícias”, que aterrorizam e exploram a população do Rio. Ele referiu-se às milícias como um “novo tipo de policiamento”. “(…) A milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos”, afirmou.
Além de defender os grupos de extorsão, Flávio ainda disse não achar justa a “perseguição” por parte de políticos e entidades “ligadas aos direitos humanos” aos milicianos. Agora Sérgio Moro, com seu projeto, apresentado na segunda-feira, entra na perseguição aos “amigos” de Flávio e de seu pai. Em uma de suas manifestações, Flávio Bolsonaro chegou a citar a favela de Rio das Pedras, comunidade que sofre com a atuação da milícia, como exemplo a ser seguido.
O filho de Jair Bolsonaro não fazia só discursos em apoio às milícias, dava também medalhas aos bandidos. Até a Medalha Tiradentes ele entregou para integrantes dos grupos de extermínio do Rio de Janeiro. O caso do ex-policial militar Adriano Nóbrega, um dos chefes da milícia, é bem ilustrativo dessa “retaguarda política” que era ofertada por ele aos criminosos. Adriano recebeu duas homenagens de Flávio Bolsonaro, uma delas ocorreu quando ele estava encarcerado, acusado de homicídio. O miliciano preso recebeu de Flávio Bolsonaro a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio.
As milícias surgiram inicialmente em oposição ao tráfico, mas logo se viu que elas apenas substituíram os antigos controladores do “negócio”. Na ocasião, em áreas controladas pelas milícias, o tráfico tradicional de drogas não entrava. Em pouco mais de uma década, essas quadrilhas ampliaram seus negócios. Além de segurança, passaram a controlar serviços de TV a cabo e internet, venda de gás, transporte alternativo e drogas. Atualmente a renda de uma das maiores milícias do Rio de Janeiro, em Campo Grande, na Zona Oeste da cidade, chega a R$ 1 milhão por mês.
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