O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que Bolsonaro “fomenta a crise para desviar o foco” dos problemas.
O ministro foi questionado sobre a divulgação do áudio em que Bolsonaro pressiona pelo impeachment de ministros do STF em conversa com o senador do Cidadania, Jorge Kajuru (GO). Na conversa, Bolsonaro instiga o senador a incluir na investigação da CPI da Covid-19 os governadores e prefeitos e fala em impeachment dos ministros do STF para esvaziar a CPI.
“O presidente nada de braçadas quando se tem crise. Ele fomenta a crise para desviar o foco e apresentar ‘serviços’ entre aspas à nação”, respondeu Marco Aurélio.
“Se com meu voto tiver que ir para o paredão, eu vou. Aí tenho valentia, que pode ser tida por alguns como insana”, declarou o ministro Marco Aurélio em entrevista ao colunista do UOL, Kennedy Alencar.
O ministro declarou que Bolsonaro “atuou no campo da política”. O decano do STF, que irá se aposentar no dia 5 de julho, também disse que as declarações de Bolsonaro não o constrangeram.
Para Marco Aurélio, Bolsonaro às vezes fala sobre parâmetros que vão além do exercício de chefe do Executivo.
O ministro lembrou que foi um dos primeiros a se manifestar favorável a não “engavetar” requerimento de abertura da CPI da Covid.
“Infelizmente o presidente da República às vezes é ouvido no que ele desborda dos parâmetros próprios ao exercício do cargo”, afirmou.
“Fui um dos primeiros a me manifestar quanto a harmonia da decisão do [Luís Roberto] Barroso com a Constituição. Ele não constituiu CPI. Ele apenas assentou que pela Constituição o presidente do Senado não podia engavetar o requerimento, porque CPI acima de tudo é um instrumental da minoria, tanto que a Constituição prevê a comissão para apurar fato determinado e requerimento de um terço, não dois terços dos integrantes da casa”, declarou.
Sobre a CPI da Covid-19, Marco Aurélio criticou no fim de semana os ataques de Bolsonaro contra o ministro Luís Roberto Barroso, que determinou ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que instalasse a CPI. Pacheco vinha segurando a instalação da comissão para preservar Bolsonaro.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) protocolou no dia 4 de fevereiro o requerimento para criação da CPI no Senado. O requerimento possuía 30 assinaturas, três a mais do necessário. Depois o pedido pela CPI ganhou o apoio de mais quatro senadores.
Portanto, a CPI tinha todos os requisitos legais para ser instalada.
“Ele esperneou e, para mim, de uma forma descabida, atacando o ministro Barroso. Não constrói. A crítica construtiva, tudo bem, mas ataque?”, rebateu Marco Aurélio os ataques de Bolsonaro contra o ministro Luís Roberto Barroso.
Relacionada: