O sociólogo Jaime Antezana Rivera, pesquisador em temas de narcotráfico, terrorismo e segurança nacional, aponta que foi um “massacre express” [sob encomenda] do fujimorismo o morticínio de 18 civis – 10 homens, seis mulheres e duas crianças, segundo a Polícia – ocorrido na noite de domingo (23) no povoado de San Miguel del Ene, Satipo, departamento de Junín, no vale dos rios Apurímac, Ene e Mantaro (Vraem) no Peru.
“Não parece nenhuma casualidade, parecem coordenados, pois as pesquisas apontam para a derrota do fujimorismo no segundo turno das eleições presidenciais em 6 de junho”, assinalou o estudioso. Assim, entre as frases destacadas no suposto panfleto do Sendero Luminoso está a ameaça de “Nunca mais Keiko Fujimori”, junto à ameaça de que quem vote por ela “é traidor, assassino do Vraem e assassino do Peru”.
Em entrevista à Rádio San Domingo nesta quarta-feira (26), o estudioso Rivera fundamenta a suspeita sobre uma das piores atrocidades cometidas em décadas. Para ele o crime segue o mesmo padrão dos praticados em 2011 e em 2016 e que acabaram com a vida de militares, policiais e civis com o objetivo de favorecer a candidatura fujimorista. “Dois fatos anteriores ilustram esta afirmação. O primeiro, em 2011, foi a emboscada de uma patrulha militar que ia de Choquetira, em Cusco, onde foram abatidos cinco soldados ocorreu um dia antes do segundo turno, em 4 de junho. A quem beneficiou essa ação ‘terrorista”? A Keiko Fujimori. O segundo, em 2016, uma cilada a um comboio militar em Macachacra, em Santo Domingo de Acobamba, Junín, que deixou cinco mortos (3 militares e dois civis), ocorreu em 9 de abril, um dia antes do primeiro turno das eleições. A quem beneficiaram tais ações sangrentas? A Keiko Fujimori”.
Ao contrário do divulgado pelas Forças Armadas, destacou Rivera, “no Vraem não existe o que eles chamam Sendero Luminoso, terroristas ou narcoterroristas, o que existe na realidade é um clã dos irmãos Quispe Palomino, uma narco-organização armada”. As emboscadas efetuadas ao longo dos anos não ocorrem porque esta milícia queira conquistar o poder, mas porque a polícia ficava com a droga ou cobrava quotas em excesso, ou apreendia grandes quantidades de insumos químicos.
“Se seguem chamando a isso de terrorismo é porque estão interessados em permanecer na área. Há quantos anos estão no local? 13 anos. E não conseguem desarticular a um pequeno grupo residual do senderismo, que se converteu em outra coisa”, questionou.
Por isso, reiterou o especialista, o morticínio do Vraem beneficia explicitamente a candidata da Força Popular (FP) – partido fundado por Keiko Fujimori. Ainda que os supostos autores tenham deixado na cena do crime panfletos com o símbolo da foice e do martelo – ao lado de projéteis de bala – dizendo que “votar por Keiko é traição”. “Como soa isso diante da opinião pública? Tem o efeito contrário, ninguém deve ser ingênuo”, disse. “Para mim, FP é o principal narcopartido deste país. Sem ganha, o Peru se transformará em um narcoestado, numa narcorrepública, é importante que tenhamos isso claro. É uma organização criminosa, porém do narcotráfico, isso é o que precisa ser dito a José Domingo Pérez (o promotor que investiga a Keiko Fujimori): organização criminosa do narcotráfico; corrupção também, obviamente, mas de narcotráfico e corrupção”, concluiu.