A publicitária Fernanda Calvi Anic, de 35 anos, foi multada por buzinar durante a carreata contra o governo Bolsonaro realizada em Peruíbe, no litoral de São Paulo, no último dia 29.
Segundo consta na multa recebida por Fernanda em sua casa, ela teria infringido o Código de Trânsito por buzinar durante o protesto, mesmo ele sendo autorizado pela Prefeitura da Cidade e acompanhado pelas autoridades policiais.
A publicitária contou que durante a carreata Fora Bolsonaro em Peruíbe, pessoas acompanhavam a passeata atrás dos carros, outras iam de bicicleta e o ato era pacífico e todos os carros iam buzinando. Fernanda fez questão de frisar: “Não passamos perto da UPA e em Peruíbe não tem hospital”.
“Quando chegamos perto da rodoviária tinham algumas viaturas da PM estacionadas, mas não fomos abordados em momento nenhum, a carreata seguiu e logo depois acabou. Fiquei surpresa quando, na última terça, chegou uma multa na minha casa por ‘uso de buzina em carreata’, sem outra justificativa e inclusive destacando que meu veículo não foi ao menos abordado”, afirmou a publicitária ao HP.
Fernanda ressaltou ainda: “Se eu estivesse comemorando um título de futebol não teria sido multada, o que estamos vivendo é cerceamento de liberdade de manifestação, claramente”.
“Postei nas minhas redes sociais e muita gente declarou apoio e choque com o ocorrido. Um amigo de Brasília disse que na carreta que fizeram lá foram aplicadas mais de 60 multas, eu dei um Google e realmente é uma coisa que está acontecendo. Esses dias uma mulher foi presa por fazer panelaço Fora Bolsonaro, além disso, temos o Rodrigo Pilha, que foi preso por chamar Bolsonaro de genocida. Estamos sendo impedidos de nos posicionar politicamente e para isso estão sendo usadas as ferramentas do estado. É um momento muito perigoso”, criticou Fernanda.
“O sentimento é de indignação e injustiça. Quando eu estava na carreata vi os PMs parados e chegamos a comentar que eles poderiam estar aplicando multas, mas não acreditei realmente que seria possível, pois a carreata estava inclusive autorizada pela Prefeitura”, destacou.
Fernanda demonstrou preocupação com a multa, pois usar a força policial para coibir manifestações políticas é um ataque a democracia. “Já fui a muitas manifestações, inúmeras, sabemos que por vezes a polícia age com violência em reprimir esses atos, mas a impressão que eu tenho é que atualmente o estado está todo aparelhado, que de fato caminhamos para um regime de ditadura e que, se o Bolsonaro continuar a ocupar o cargo que ocupa, iremos chegar nesse extremo”.
“Por enquanto ainda vivemos em uma democracia e eu tenho o direito e dever, como cidadã brasileira, a me posicionar politicamente no meu país. Apesar de me sentir injustiçada e com esse direito cerceado, vou continuar me posicionando contra esse governo. O que eu mais quero é que ele não seja reeleito e que possamos enterrar esse período da história do Brasil”, finalizou a publicitária.
Como Fernanda destacou, o caso dela não é isolado. Uma mulher que protestava batendo panelas contra Jair Bolsonaro durante ‘motociata’ promovida por ele em Porto Alegre, foi detida pela Brigada Militar, no último dia 10.
Nos vídeos que circulam na internet, bolsonaristas aparecem apontando o dedo na cara da mulher, de 47 anos, que minutos depois foi conduzida algemada para uma viatura policial. A manifestante foi levada à 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), e foi liberada após a produção de termo circunstanciado por desobediência.
Diante das denúncias de abuso policial, o governador do Estado, Eduardo Leite (PSDB), afirmou que irá “apurar com rigor” as condições da prisão.