Às vésperas do Dia Nacional do Forró, comemorado em 13 de dezembro, data de nascimento de Luiz Gonzaga, as Matrizes Tradicionais do Forró foram reconhecidas como Patrimônio Cultural do Brasil.
A decisão aconteceu na quinta-feira (9), durante a 99ª Reunião Extraordinária do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A partir de agora, o Brasil tem, em sua lista, 52 bens registrados como patrimônio imaterial.
As Matrizes Tradicionais do Forró têm contribuído há mais de um século para a construção da identidade nordestina e nacional, especialmente no tocante aos seus gêneros, modos de dançar e saberes enraizados no cotidiano do povo nordestino e de várias comunidades espalhadas pelo Brasil, que tem o forró como marca de vivências coletivas do trabalho e de experiências festivas.
“A noção de “matrizes” serve para destacar práticas que, estando vivas e em plena vigência, inspiram continuamente forrozeiros e músicos contemporâneos de diversas outras filiações e são, portanto, seminais à aparição de novas formas de forró, mas também sustentam a dinâmica de transformações e reinvenções das próprias matrizes, garantindo sua continuidade no tempo”, aponta o Parecer Técnico de 2021, do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI) do Iphan.
REGISTRO
A solicitação de Registro foi apresentada em 2011 pela Associação Balaio do Nordeste e pelo Fórum Forró de Raiz da Paraíba, recebendo o endosso da superintendência do Iphan no estado da Paraíba. A proposta teve apoio de 423 forrozeiros de todo país, por meio de abaixo-assinado.
Desde então, o Iphan iniciou o Processo de Registro, que incluiu fóruns e reuniões de mobilização junto a comunidades de forrozeiros, pesquisadores e produtores envolvidos com a temática. Esses encontros produziram entendimentos e demandas para o trabalho de reconhecimento que estão consolidados na Carta de Diretrizes para Instrução Técnica do Registro das Matrizes do Forró como Patrimônio Cultural do Brasil. Durante a reunião do Conselho Consultivo, os 16 conselheiros aprovaram à unanimidade o registro das Matrizes Tradicionais do Forró.
Com o reconhecimento do Conselho Consultivo, as Matrizes Tradicionais do Forró foram inscritas no Livro de Registro das Formas de Expressão, com abrangência nacional, onde também estão registrados bens como o Repente, a Ciranda do Nordeste, a Roda de Capoeira, o Maracatu Nação (PE), o Carimbó (PA) e a Literatura de Cordel. A partir de então, as Matrizes Tradicionais do Forró deverão ser alvo de políticas públicas para a salvaguarda da manifestação.
“Os processos de registro das manifestações culturais são iniciados a partir de demanda da sociedade e de seus representantes, encaminhada ao Iphan. O processo de registro das Matrizes Tradicionais do Forró se destacou justamente pela grande mobilização social ocorrida desde seu início, bem como pela viabilização de ações, por meio de emendas parlamentares, que garantiram uma pesquisa com amplitude e qualidade, ao lado de rico debate, resultando nesse título esperado por todo o Brasil.” explica o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI), Roger Alves Vieira.
As “Matrizes Tradicionais do Forró” são manifestações culturais conhecidas por seus ritmos musicais, danças e instrumentos tradicionais. Uma forma de expressão que envolve diversas modalidades artísticas, cujo núcleo é a performance social de um leque de tipos de música e dança. Desde seus primeiros registros conhecidos, no início do século XX, a palavra “forró” assumiu também o sentido de um tipo específico de música, cantada ou instrumental, para ouvir e para dançar.
ANIVERSÁRIO GONZAGA
Neste 13 de dezembro, foi o dia de nascimento do Rei do Baião. Morto em 1989, Gonzaga faria 109 anos e teria orgulho de ver o forró receber, neste dia, o título de Patrimônio Imaterial Brasileiro pelo Iphan. Depois de trabalhar por dez anos pelo “batizado do filho que não tinha certidão”, como diz a produtora cultural de João Pessoa Joana Alves da Silva, ela vai participar de uma série de formalidades e festejos em João Pessoa, ratificando a insígnia protetora do gênero. “Agora, vamos para a Unesco fazer do forró um Patrimônio Cultural da Humanidade”.
Única expressão definida formalmente pelo Iphan como “supergênero” por abrigar uma longa família que inclui o baião, o xote, o xaxado e a quadrilha, o forró tem seu dia nacional graças a Paulo Rosa, dono do Canto da Ema e propositor da efeméride ao lado da ex-prefeita Luiza Erundina.
“A música brasileira tem como alicerces Carinhoso, de Pixinguinha; Chega de Saudade, de João Gilberto; e Asa Branca, de Luiz Gonzaga”, diz Paulinho Rosa. Além de lembrar da onipresença de Gonzagão, a noite pode representar também o tamanho do arco que os mais de 100 anos de forró abre sobre as novas gerações.