O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, apontou oportunismo eleitoreiro do deputado bolsonarista Ricardo Salles (PL-SP) na Comissão Parlamentar de Inquérito do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
“O objetivo (de Salles na CPI) é eleitoral”, afirmou o ministro em entrevista à GloboNews na quinta-feira (18). O bolsonarista é pré-candidato à Prefeitura paulistana pelo PL e é o relator da CPI instalada na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (17) que vai investigar as ações do MST.
Segundo o ministro, a ideia de Salles, de defender a extensão das investigações envolvendo as atividades do MST ao MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto) é uma manobra para tentar viabilizar sua candidatura à Prefeitura de São Paulo em 2024. O ministro reforça ainda que não há qualquer objeto que justifique uma CPI contra nenhum dos dois movimentos sociais.
De acordo com ele, as pretensões de Salles são para fazer frente ao também deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), liderança do MTST e provável candidato na disputa da capital paulista.
O ministro considerou ainda que o movimento não é o responsável pela violência no campo no Brasil. Ele citou relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), segundo o qual a maioria dos conflitos violentos acontecem pelo avanço sobre terras de pequenos proprietários e em contextos de crimes ambientais nos últimos quatro anos.
Teixeira disse também que se for convocado a comparecer à CPI, irá com a “maior tranquilidade” para defender as pautas do governo Lula para o campo, os programas de produção de alimentos, as questões ecológicas e de combate à fome. “Estamos tranquilos, não estamos perdendo noite de sono por (conta) (d) essa CPI”, assegurou. “A tendência dela é não ter objeto (de investigação) e esvaziar”.
O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, também questionou a CPI. “Sou muito cauteloso com esta história de CPI. O trabalho do legislativo é legiferante, não policialesco. Sou muito cauteloso em relação a qualquer CPI”.
A indicação de Salles para a relatoria da comissão tem sido alvo de muitas críticas de parlamentares, que apontam, além das intenções eleitoreiras do ex-ministro de Bolsonaro, a sua condução de pessoa suspeita por conta de crimes ambientais a ele atribuídos quando esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente.
A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), classificou a escolha como “ultrajante”. “ULTRAJANTE indicação do Ricardo Salles para a relatoria da CPI do MST. Isso não é sério. Mostra que o objetivo é criminalizar o movimento. Vocês sabem bem quem é o ex-ministro bolsonarista. E ainda um militar e um delegado no comando da comissão. Qual o propósito?”, questionou Gleisi pelo Twitter.
A também deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) também se opôs a escolha do ex-ministro para a relatoria da comissão. Sâmia reprovou ainda criação da CPI, alegando que é uma tentativa de “tirar a atenção dos verdadeiros crimes que foram cometidos no nosso país”, como a “tentativa de golpe de estado no dia 8 de janeiro” e a “rachadinha do gabinete dos filhos do Bolsonaro“.
Boulos também avalia que a movimentação de Salles na CPI dos Sem Terra aponta para a relação com a disputa em São Paulo em 2024. “Usar a CPI de palco”.
“Ele quer fazer uso eleitoreiro da CPI, quer usar a CPI de palco para viabilizar a candidatura dele em São Paulo. É lamentável”, disse o deputado. “Se ele criar um desvio de finalidade da CPI e tratar de tema que não está no escopo dela, isso não dura dez minutos. Não se sustenta nem na Câmara nem no Judiciário. É antirregimental”, diz Guilherme Boulos.
Ricardo Salles foi ministro do Meio Ambiente no governo de Jair Bolsonaro. Deixou a pasta em junho de 2021, quando esteve na mira da Polícia Federal por obstruir investigações. Ele tentou barrar uma operação que apreendeu no final de 2020 cerca de 220 mil metros cúbicos de madeira extraída de forma ilegal no estado do Pará. Foi um dos mais próximos ministros do gabinete de Jair Bolsonaro, responsável pelo afrouxamento sem precedentes de políticas de preservação ambiental.
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