O líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir, expôs a gravidade do racha no partido do governo, ao afirmar que Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz “devem preparar um cafezinho para receber a Polícia Federal em breve”.
A ironia foi uma resposta à operação de busca e apreensão ocorrida na manhã de quinta-feira (15) na casa do deputado federal Luciano Bivar, presidente do PSL, em Jaboatão dos Guararapes (PE).
O parlamentar também questionou se os filhos do presidente terão tratamento diferenciado, já que o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e agora também o presidente do PSL, Luciano Bivar, já foram alvos da PF: “pela lógica os próximos devem ser Flávio e Queiroz”.
Queiroz e Flávio estão envolvidos em um esquema de lavagem de dinheiro que era operado de dentro da Assembleia Legislativa do Rio quando o atual senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) era deputado estadual. Queiroz era motorista de Flávio e movimentou R$ 7 milhões de 2014 a 2017, de acordo com relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
O MP/RJ e a PF investigavam ainda fortes suspeitas de envolvimento do gabinete de Flávio com as milícias do Rio de Janeiro.
O Delegado Waldir insinuou ainda que Jair Bolsonaro está por trás da operação contra Bivar. Ele “já estava esperando a ação da PF contra o presidente do partido” hoje. “O presidente da República parece ter uma bola de cristal e já estava esperando essa operação. Acho que o Bivar deve ter aguardado os policiais com cafezinho e tapioca.”
O advogado de Luciano Bivar e do PSL divulgou nota afirmando estranhar a operação em um momento de “turbulência política” como este.
Nos últimos dias uma guerra fratricida instalou-se dentro do PSL, numa disputa pelo controle da legenda. De um lado ficaram Bolsonaro, os filhos, alguns parlamentares e um grupo de advogados e assessores, e de outro, a maior parte da bancada. Bolsonaro chegou a dizer que deixaria o partido.
Para Luciano Bivar, presidente nacional do PSL e deputado federal por Pernambuco, Jair Bolsonaro está comprando essa briga para controlar o partido e “fazer coisas não éticas”, como “contratos para assessoria de imprensa, publicidade, advogados, compliance”.
O líder do PSL no Senado, senador Major Olímpio, creditou a crise a ação dos filhos do presidente. Ele afirmou que “os filhos de Jair Bolsonaro têm mania de príncipes e causam muitos problemas e desgastam o governo”.
“Não reconheço no país ainda monarquia, dinastia, filho príncipe, nada disso”, continuou Olímpio, em entrevista na sexta-feira (11), numa referência às intervenções da família Bolsonaro em diretórios municipais do partido.
A ação da Polícia Federal foi autorizada pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE) e faz parte da Operação Guinhol, que investiga o caso da candidaturas laranjas do PSL na eleição de 2018. O pedido foi feito pelo Ministério Público Eleitoral (MPE).
A defesa de Bivar e do PSL disse que a operação “é um absurdo completo” e que “o delegado está fazendo uma pescaria para encontrar alguma coisa”.
A PF informa que está cumprindo sua obrigação ao apurar o uso de candidaturas laranjas pelo partido na eleição de 2018. Mas o que está intrigando os líderes do partido na Câmara e no Senado é que as investigações do escândalo envolvendo Flávio Bolsonaro não estão tendo a mesma atenção por parte da PF.
Além da residência de Bivar, também foram cumpridos mandados na sede do PSL em Pernambuco e em uma gráfica. A ação investiga fraude no emprego dos recursos destinados às candidaturas de mulheres – ao menos 30% dos valores do Fundo Partidário deveriam ser empregados em campanhas femininas. Segundo a PF, o dinheiro foi desviado e usado por outros candidatos.
Foram apreendidos celulares, notebooks e pendrives nos endereços no Recife e em Jaboatão. Numa gráfica, a PF recolheu documentos. A PF não informou qual candidatura é o alvo da operação desta terça, mas uma das investigadas, desde fevereiro, é a de Lourdes Paixão, que recebeu R$ 400 mil da direção nacional do PSL, terceira maior verba concedida pelo partido. A candidata a deputada federal obteve 274 votos em 2018.
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