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A vice-líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC), avaliou que a saída dos comandantes do Exército (Edson Pujol), da Marinha (Ilques Barbosa Júnior) e da Aeronáutica (Antônio Carlos Moretti) do governo Bolsonaro, na esteira da demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, demonstra que as Forças Armadas não estão dispostas a entrar na disputa política que o presidente tenta impor à sociedade brasileira na sua pretensão golpista.
“Quando um ministro da Defesa é demitido por cumprir seu dever (artigo 142 da Constituição), e os três comandantes das Forças Armadas decidem pedir demissão em solidariedade é porque não admitem que as FFAA sejam tratadas como parte da disputa política, tal qual pretende o presidente Bolsonaro”, afirmou.
A parlamentar, que já ocupou cargo estratégico no Ministério da Defesa, usou suas redes sociais nesta terça-feira (30), para comentar os novos desdobramentos da crise militar, desencadeada pela demissão de Azevedo e Silva na terça (29). O imbróglio criado por Bolsonaro resultou na saída em bloco dos três comandantes das Forças Armadas em protesto pela demissão de Fernando de Azevedo e Silva.
Edson Pujol, Ilques Barbosa Júnior e Antônio Carlos Bermudez colocaram seus cargos à disposição do general da reserva Walter Braga Netto, novo ministro da Defesa, nesta manhã. A saída foi comunicada em nota do Ministério da Defesa.
“O Ministério da Defesa (MD) informa que os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica serão substituídos. A decisão foi comunicada em reunião realizada nesta terça-feira (30), com presença do Ministro da Defesa nomeado, Braga Netto, do ex-ministro, Fernando Azevedo, e dos Comandantes das Forças.”
A renúncia conjunta dos chefes militares ficou acertada entre eles logo após a demissão do general Fernando Azevedo e Silva. Foi a primeira vez desde 1985 que os três comandantes pediram renúncia conjunta por discordarem do presidente da República.
Segundo Perpétua Almeida, com a troca de ministro, Bolsonaro interferiu na hierarquia militar, interferindo diretamente em uma coisa muito cara internamente para as Forças Armadas. A parlamentar observou que ao indicar Braga Netto, antes subordinado de Pujol no Exército, para o Ministério da Defesa, o presidente criou um constrangimento ao até então comandante da Força.
“Bolsonaro mexe na hierarquia militar e interfere diretamente no que é muito caro internamente p/ as Forças. Ao indicar para o Ministério da Defesa, o Braga Neto, antes subordinado de Pujol no Exército, cria um constrangimento ao comandante do EB, que deve pedir para sair”, escreveu.
“Se, para o lugar de Pujol, CMDT do Exército, ele indica o 5º na ordem sucessória, criará dificuldades para quatro dos 4 estrelas que estão à frente, hierarquicamente. Vão optar pela reserva? Bolsonaro não tem as Forças dispostas a embarcarem na sua escalada antidemocrática, eis a questão”, continuou.
“Por isso, num total desrespeito as FFAA, usando o poder de presidente, tenta dar cavalo de pau na escolha do CMDT do Exército. Minha opinião clara: Bolsonaro pode fazer a mudança que fizer, mas os comandos vão sempre ter as Forças Armadas em 1º lugar, em respeito as instituições”, observou.
A demissão de Azevedo e Silva se deu após meses de desgastes na relação com a orientação do governo no combate à pandemia do novo coronavírus. Bolsonaro vinha cobrando da área militar manifestações políticas favoráveis à ideia de decretar estado de defesa para impedir o fechamento das atividades não essenciais por governadores e prefeitos.
Azevedo, no entanto, se mantinha fiel à posição unânime nos comandos da Marinha, Aeronáutica e Exército de blindar a instituição e de não se associar a qualquer governo antidemocrático.
Para Perpétua, nesse quadro o desdobramento da crise não poderia ser outro: “Bolsonaro não tem as Forças Armadas dispostas a embarcar na sua escalada antidemocrática, eis a questão”.