Ao invés de investir na produção interna de gasolina e diesel, governo torra recursos da estatal em sua criminosa farra eleitoral. O resultado é um pais cada vez mais dependente de importações
Pressionada por Bolsonaro para compensar os recursos destinados à “PEC do desespero”, com medidas para tentar amenizar o desastre de seu governo às vésperas das eleições, a Petrobrás vai antecipar a distribuição de dividendos com acionistas num montante recorde de R$ 87,8 bilhões. Assim, apenas no primeiro semestre deste ano, os acionistas receberão R$ 136,3 bilhões em dividendos pelo lucro acumulado no período de R$ 98,9 bilhões. Isto é 35% a mais do que foi distribuído em todo o ano de 2021, quando a Petrobras pagou um total de R$ 101,4 bilhões em dividendos, na. Desse total, a União ficou com R$ 37,3 bilhões.
Segundo anunciou a direção da Petrobrás na quinta-feira (28), no segundo trimestre de 2022, a estatal registrou um lucro líquido de R$ 54,3 bilhões, valor 26,8% superior ao registrado em igual período de 2021, lucro alavancado pelos aumentos nos preços do petróleo e dos combustíveis realizados pela companhia com aval de Bolsonaro.
Do total de R$ 87,8 bilhões, os acionistas estrangeiros, que detêm 44,73% do capital da Petrobrás, levarão R$ 39,27 bilhões. O governo (União e BNDES) ficam com R$ 32,14 bilhões. Bolsonaro pretende usar a soma que virá dos dividendos da Petrobrás para cobrir parte dos R$ 41,25 bilhões da “PEC do desespero”, assim chamada por causa do pavor da derrota eleitoral, que a base do governo conseguiu aprovar no Congresso Nacional às vésperas da eleição para tentar reverter o quadro desfavorável à sua reeleição. Uma gestão marcada por denúncias de corrupção, escândalos de assédio sexual, ataques à democracia e ao sistema eleitoral, além do agravamento da crise econômica do país – que conta hoje, com mais de 100 milhões de brasileiros vivendo com algum tipo de insegurança alimentar e outros 33 milhões passando fome, em meio a inflação generalizada dos preços dos alimentos.
O resultado do lucro do segundo trimestre foi puxado na esteira dos aumentos nos preços da gasolina (18,8%) e do diesel (24,9%) autorizados em março pela direção da Petrobrás. Em maio, a diretoria liberou também um aumento de 8,87% no preço do diesel.
No segundo trimestre, o preço da gasolina variou no país em patamar acima de R$ 7 e chegou a ultrapassar R$ 8 em alguns municípios. Já o preço do óleo diesel ultrapassou os R$ 7 nos postos do país, conforme levantamentos feitos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) entre abril e junho.
O pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Mahatma dos Santos, afirma que a distribuição recorde de dividendos “revela que a gestão da estatal tem sido direcionada para atender a um conjunto de interesses relacionados ao calendário eleitoral e não aos interesses da sociedade como um todo. As altas nos preços dos derivados turbinam os dividendos que serão repassados ao governo federal, mas reduzem os investimentos de longo prazo da companhia e impulsionam a inflação”, avaliou o pesquisador.
