
A Polícia Federal apura se Jair Renan, filho mais novo de Jair Bolsonaro, teria agido para negociar contatos com o governo federal em troca de serviços de reforma em uma sala comercial.
Em mensagens obtidas pela PF, empresários foram procurados para pagar obras da sala comercial do “04”. O material faz parte do inquérito que apura suspeita de tráfico de influência de Jair Renan.
Nas mensagens, a arquiteta responsável pela obra chegou a ironizar a busca por patrocinadores e disse que pediria “bolsa móveis e bolsa reforma”. Agora, a PF investiga se houve “patrocínio na obra”.
Outro ponto, o filho do presidente teria atuado para intermediar contatos com o governo federal. Ele nega qualquer irregularidade, óbvio.
Os investigadores tiveram acesso a diálogos de WhatsApp entre a arquiteta Tania Fernandes e o personal trainer Allan De Lucena, amigo de Jair Renan e responsável por ajudá-lo a montar uma empresa de eventos em um camarote no estádio Mané Garrincha, em Brasília.
Durante uma conversa, em maio de 2020, Allan Lucena diz a Tânia: “Estamos indo, já tem um patrocinador”. Em seguida, ela responde: “Oba, preciso de todos os patrocinadores. Veja as cotas para patrocinar a execução”. No diálogo, o personal trainer afirma que, quando o orçamento da reforma estiver finalizado, será mais fácil montar as cotas de patrocínio para oferecer aos empresários.
“Cota eletrônicos. Cota móveis. Cota reforma. Kkkkkk”, escreve ele. A arquiteta, então, responde: “Kkkkk vamos pedir bolsa móveis, bolsa reforma, bolsa família”. Allan ainda escreve: “Já já sai na mídia. Filho de presidente pede ‘bolsa móveis'”.
Segundo as investigações, uma das empresas apontadas como patrocinadoras recebeu, desde 2019, R$ 25,4 milhões em contratos para o fornecimento de móveis como poltronas, cadeiras e mesas de escritório ao governo federal.
A PF também obteve indícios de que os responsáveis pela reforma buscaram ocultar o nome de Jair Renan no negócio e que negociavam a diminuição no valor da reforma caso não fosse emitida uma nota fiscal.
Em depoimento à PF, Jair Renan disse que não era responsável por captar patrocínios para a obra e não oferecia vantagens no governo em troca. Allan De Lucena se recusou a comentar.
Em depoimento à Polícia Federal, Jair Renan Bolsonaro falou que “outras pessoas usaram seu nome para ganhos pessoais”. Renan depôs na sede da PF no último dia 7.
Os policiais questionaram ao filho 04 se ele havia usado sua empresa – Bolsonaro Jr Eventos e Mídia – para favorecer empresários dentro do governo federal.
Segundo a denúncia, haveria articulação com companhias do ramo de mineração e o então ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.
De acordo com a acusação, o personal trainer e sócio de Renan, Allan Lucena, recebeu doação de um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil, destinado a um projeto social. Após cerca de um mês, a empresa que fez a contribuição estava marcada na agenda do ex-ministro.
Ao negar as acusações, Jair Renan afirmou à PF que “quem resolvia tudo (da empresa) era Allan”.