A Polícia Militar do Rio de Janeiro abriu investigação para apurar denúncias de intimidações feitas por policiais contra parentes do refugiado congolês Moïse Kabagambe, cruelmente assassinado em um quiosque na praia da Barra da Tijuca. A apuração foi aberta no fim da semana passada na 2ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (PJM).
As denúncias dão conta de que os PMs Rigaud e Senra pediram os documentos de familiares de Moïse, quando estes foram ao quiosque Biruta em busca de informações. Os mesmos PMs teriam novamente pedido a documentação dos familiares durante um protesto pela morte de Moïse.
Segundo os familiares de Moïse, dois policiais teriam sido filmados no local depois que o Samu chegou, os recortes do vídeo das agressões que foram divulgados à imprensa pela Polícia Civil não mostram esse momento. A segunda vez em que os policiais apareceram foi no dia seguinte à morte, uma terça-feira, quando parentes e amigos de Moïse foram até a Barra da Tijuca (zona oeste) tentar entender o que havia acontecido. Eles contam que estavam fazendo perguntas ao dono do quiosque Tropicália, Carlos Fabio Muzi, a um dos seus funcionários, e depois a uma mulher de outro quiosque.
A família pedia que o proprietário do quiosque os acompanhasse até a Delegacia de Homicídios (DH) para dar depoimento, o que até aquele momento ainda não havia acontecido. Segundo os relatos, o proprietário disse que iria buscar o carro para partirem, mas não retornou.
Nesse meio tempo, segundo os parentes, os policiais surgiram, pediram documentos do grupo e fizeram perguntas sobre o que havia acontecido, mesmo supostamente já tendo estado no local no dia anterior.
A gravação em áudio de parte da conversa, divulgada pelos familiares, mostra um agente afirmando que os comerciantes não eram obrigados a dar explicações à família, e sim apenas ao delegado. A comerciante chega a dizer que tudo bem, mas o homem que se apresentou como policial insiste.
“Eu falei para o dono do quiosque. Qualquer informação, vocês têm que dar lá na DH, que está a cargo da investigação. A informação que eles devem dar, que eles são obrigados a dar, é para o delegado. O delegado veio ou vai vir aí, ou vai chamá-los para a delegacia. Não adianta ficar falando aqui”, diz o agente.
A atitude de guardas municipais também está sob suspeita. Uma testemunha que presenciou o espancamento afirmou que tentou pedir ajuda a guardas municipais, mas que os agentes teriam se negado a ajudar.
APURAÇÃO
A investigação da PM solicitou à Delegacia de Homicídios da Capital uma cópia das imagens das câmeras de segurança do quiosque Biruta, vizinho ao Tropicália, local do crime. Os investigadores também pediram cópias de depoimentos de três PMs: do cabo Alauir de Mattos Faria, apontado como dono do quiosque Biruta, e dos policiais que registraram a ocorrência do linchamento, cabo Leandro Rigaud e soldado Cleiton Lamonica Senra. Posteriormente, os três foram chamados para depor.
Segundo a concessionária Orla Rio, que administra os quiosques, Alauir ocupava o lugar irregularmente. A defesa do militar alega que a dona do estabelecimento seria sua irmã e que ele apenas a ajudaria no local.
Os três agressores que espancaram Moïse estão presos e respondem por homicídio duplamente qualificado em um processo que corre em sigilo.