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Todos foram indiciados por homicídio duplamente qualificado sem possibilidade de defesa e meio cruel
A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) indiciou, nesta terça-feira (1º), três homens pela morte do imigrante congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos, no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, na última segunda-feira (24).
De acordo com a polícia, todos foram indiciados por homicídio duplamente qualificado sem possibilidade de defesa e meio cruel.
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O congolês foi espancado até a morte por cinco homens, com golpes de madeira e taco de beisebol, após cobrar um pagamento atrasado no quiosque Tropicália. Todo o crime foi gravado por imagens de câmeras de segurança do estabelecimento.
A perícia no corpo de Moïse indica que a causa da morte foi traumatismo do tórax, com contusão pulmonar, causada por ação contundente. O laudo do IML diz que os pulmões de Moíze tinham áreas hemorrágicas de contusão e também vestígios de broncoaspiração de sangue.
Segundo o delegado Henrique Damasceno, titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), o porrete usado no crime foi localizado em um matagal perto do quiosque, após denúncia de uma testemunha.
Na tarde desta terça-feira, Helison Cristiano confessou participação no espancamento e morte do jovem. Ele contou outra versão do ocorrido e também negou que Moïse estivesse cobrando salários atrasados. Ele disse ter tentado se entregar duas vezes à polícia, mas que por medo de sofrer represálias, ele recuou. Já no início da noite, um segundo homem, identificado apenas como Fábio Silva, foi preso em Paciência, na Zona Oeste do Rio.
O CRIME
As imagens da câmera de segurança mostram ao menos 20 minutos de agressões — foram desferidas 11 pauladas enquanto a vítima estava em luta corporal com os agressores e outras 15 quando ele já estava imóvel no chão.
O vídeo começa com Moïse — que segura uma cadeira — e um homem não identificado com um pedaço de madeira. Ambos dão voltas dentro do quiosque —ora avançando ora recuando. Essa dinâmica se mantém por cerca de 2 minutos, quando outros três homens surgem nas imagens. A essa altura, Moïse já tirou a camisa. O que se segue é uma sessão de espancamento.
Os homens cercam e derrubam Moïse ao chão. Eles usam pedaços de madeira para bater no congolês. Um homem de camiseta vermelha prende o pescoço de Moïse com as pernas. Depois disso, outro homem espanca Moïse com um pedaço de madeira. Ele bate ao menos quatro vezes.
O agressor que deu uma “chave de perna” no pescoço de Moïse tenta amarrá-lo, com ajuda de um outro agressor. Com uma espécie de corda, eles amarram as mãos e os pés de Moïse.
QUERO JUSTIÇA
Moïse, de 24 anos, veio para o Brasil em 2014 com a mãe e os irmãos, como refugiado político, para fugir da guerra e da fome. A família disse que o responsável pelo quiosque estava devendo dois dias de pagamento para Moïse e que, quando o congolês foi cobrar, foi espancado até a morte.
O corpo foi enterrado no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio, no domingo (30). O sepultamento foi marcado por protestos. A família de Moïse pediu justiça.
“Meu filho cresceu aqui, estudou aqui. Todos os amigos dele são brasileiros. Mas hoje é vergonha. Morreu no Brasil. Quero justiça”, afirmou Ivana Lay, mãe de Moïse.
“Uma pessoa de outro país que veio no seu país para ser acolhido. E vocês vão matá-lo porque ele pediu o salário dele? Porque ele disse: ‘Estão me devendo’?”, questionou Chadrac Kembilu, primo de Moïse.
ONU lamenta assassinato de congolês no Rio
O Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas para Refugiados no Brasil (ACNUR Brasil), a Organização Internacional para Migrações (OIM Brasil) e o Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio (PARES Caritas RJ) divulgaram na segunda-feira (31) uma nota de “condolências e solidariedade à família do refugiado congolês.
“Neste momento, as organizações apresentam suas sinceras condolências e solidariedade à família de Moïse e à comunidade congolesa residente no Brasil”, lê-se na nota.
“Moïse chegou ao Brasil ainda criança, acompanhado de seus irmãos. No país, ele e sua família foram reconhecidos como refugiados pelo governo brasileiro. Ele era uma pessoa muito querida por toda a equipe do PARES Caritas RJ, que o viu crescer e se integrar.”
As organizações dizem que acompanham a investigação, “esperando que o crime seja esclarecido”.
Eis a íntegra da nota:
“As equipes do PARES Cáritas RJ, do ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) e da OIM (Agência da ONU para Migrações) no Brasil receberam, com enorme consternação, a notícia da morte do refugiado congolês Moïse Kabagambe, de 24 anos, brutalmente espancado na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
Moïse chegou ao Brasil ainda criança, acompanhado de seus irmãos. No país, ele e sua família foram reconhecidos como refugiados pelo governo brasileiro. Ele era uma pessoa muito querida por toda a equipe do PARES Caritas RJ, que o viu crescer e se integrar.
O PARES Cáritas RJ, o ACNUR e a OIM estão acompanhando o caso, esperando que o crime seja esclarecido. Neste momento, as organizações apresentam suas sinceras condolências e solidariedade à família de Moïse e à comunidade congolesa residente no Brasil.
Equipes PARES Cáritas RJ, ACNUR Brasil e OIM Brasil.”