Policiais militares amarraram com uma corda, pelas mãos e pelos pés, um homem de 32 anos suspeito de ter participado com outras duas pessoas de um “arrastão” para furtar alimentos de um mercado na Vila Mariana, em São Paulo. O caso foi registrado no domingo (4). Parte da situação foi filmada.
O vídeo foi divulgado pelo padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, compartilhou a situação em suas redes sociais e questionou: “A escravidão foi abolida?”.
Abordagem da PM com um irmão em situação de rua na UPA Vila Mariana . A escravidão foi abolida ? pic.twitter.com/okrwGju1hh
— JULIO LANCELLOTTI (@pejulio) June 6, 2023
De acordo com o boletim de ocorrência, o funcionário do mercado contou que três pessoas entraram no comércio na Zona Sul por volta das 23h30 e levaram produtos. O rapaz indicou as roupas dos suspeitos e para onde eles teriam corrido.
Vídeos mostram os policiais arrastando o homem pelo chão sem nenhum remorso e colocando-o numa maca de maneira violenta. O homem geme enquanto um PM o carrega pelo corredor do UPA, parecendo sentir dor. Não se sabe a motivação que levou os policiais a deterem e amarrarem o homem.
“Calma, tô colaborando, tô colaborando”, diz o homem repetidas vezes, a fim de não ser castigado pelos policiais.
A pessoa que registrou as imagens, um arte educador de 32 anos, entrevistado pelo portal Metrópoles, onde pediu para não ser identificado, foi levado pelos PMs para o 27º Distrito Policial (DP) porque fez a gravação e disse ter ficado “inconformado com a forma que estavam tratando o cidadão”.
“É um absurdo os policiais tratarem um ser humano daquele jeito”, diz ao Metrópoles. “Como assim, estamos na época da escravidão?”, questiona.
Segundo ele, os policiais tentaram intimidá-lo, pedindo inclusive os documentos. “Disseram que eu tinha que ser formado em segurança pública para questionar o que eles estavam fazendo com aquele rapaz”, diz.
ELE GRITAVA DE DOR
O educador diz que, quando confirmou que iria até o DP, um dos PMs fez um gesto e, imediatamente, eles ligaram as câmeras presas ao uniforme. “Antes, quando foram me intimidar, não estavam ligadas”, relata.
Segundo ele, o suspeito ficou ao menos três horas amarrado. Foi por volta das 3h, quando o delegado chamou para prestar depoimento, que o rapaz detido pelos PMs foi desamarrado. “Ele gritava de dor”, diz.
PM DIZ QUE ENVOLVIDOS SERÃO AFASTADOS
Por meio de nota, a PM lamentou o caso e disse que a conduta dos agentes não é compatível com o treinamento e valores da instituição. Uma inquérito para investigar o caso foi aberto.
“Todos foram preventivamente afastados das atividades operacionais, vez que as ações estão em desacordo com os procedimentos operacionais padrão da instituição”, disse a PM.