Ele disse que será “o último no país a receber essa vacina”. CPI e STF já estão no seu encalço
Jair Bolsonaro voltou a atacar a vacinação da população brasileira. Mais uma vez contra a CoronaVac, a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, de São Paulo, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. Mas não é só a CoronaVac que o capitão cloroquina sabota.
Ele sabotou outras, inclusive a até mesmo a vacina da Pfizer que, segundo testemunhas, mandou dezenas de mensagens oferecendo vacinas ao governo brasileiro sem obter nenhuma resposta.
A CPI já investiga o quanto essa sabotagem criminosa de Bolsonaro aos imunizantes resultou em número de mortes. O epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, diz que o culpado por esta tragédia tem nome, sobrenome e endereço. Ele calcula que, se o Brasil estivesse na média mundial do combate à pandemia, cerca de 400 mil pessoas não teriam morrido, vítimas da Covid-19.
O desastre bolsonarista transformou o Brasil no segundo país do mundo em número absoluto de mortes, com mais 560 mil óbitos até agora, só ficando atrás dos Estados Unidos.
Mas, o investigado, que desdenhou o uso de máscaras e estimulou aglomerações, segue sabotando a luta contra a pandemia e atacando a vacinação. Ele repetiu que será o último no país a receber a dose.
“Vou tomar a vacina que possa entrar no mundo todo. Não posso tomar essa vacina… Lá de São Paulo, que não está aceita na Europa nem nos Estados Unidos. Eu viajo o mundo todo, tenho de tomar a específica aceita no mundo todo”, disse Bolsonaro à Rádio 96 FM, de Natal (RN). A referência negativa é à CoronaVac, mas Bolsonaro, com essa fala, sabota na verdade todas as vacinas.
Esse ataque de hoje à vacina desenvolvida na China, que o Brasil passará a produzir em breve, não é por acaso. Ocorre nesta data porque o serviçal quer agradar o Conselheiro de Segurança dos EUA, Jake Sullivan, que foi recebido no Planalto nesta quinta-feira. O secretário americano, além de trabalhar para minar as boas relações econômicas e comerciais do Brasil com a China, veio para pressionar especificamente o governo a não permitir que a empresa de comunicações Hauwey participe da licitação internacional para a implantação da tecnologia 5G no país.
Esses discursos ofensivos da família Bolsonaro contra as vacinas chinesas e contra a China, além de serem uma vergonhosa submissão aos interesses comerciais dos EUA – que luta desesperadamente contra a perda de hegemonia econômica para o país asiático – atrapalha muito os negócios com os chineses, principais parceiros comerciais do Brasil.
O ataque à CoronaVac, como Bolsonaro acaba de fazer, não ocorre só pelo seu negacionismo, por sua ignorância e aversão geral às vacinas e à ciência, mas também pelo servilismo à Casa Branca.
A agressão à CoronaVac, vacina comprovadamente eficaz e segura, permite que Bolsonaro possa também ofender o governador de São Paulo, o seu desafeto político. Ele já chamou o imunizante produzido no Butantan, por exemplo, de “vacina chinesa de João Doria”.
Na ocasião, forçou o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a desfazer a intenção de compra do imunizante. A cena foi vergonhosa. Bolsonaro desautorizou publicamente o seu ministro que havia anunciado um dia antes a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. Pazuello voltou atrás e explicou: “É simples assim: ele manda e eu obedeço”.
Enquanto Bolsonaro fazia essa guerrinha ridícula contra a CoronaVac, centenas de milhares de pessoas estavam morrendo de Covid-19. Agora, ele usa como pretexto para a nova agressão a guerra comercial de vacinas, que ainda mantém restrições às vacinas chinesas nos EUA e em alguns países da Europa.
Alguns países se submetem aos monopólios e adotam regras diferentes para a entrada de viajantes. Entre os europeus, Espanha e Suíça, aceitam a Coronavac em certificados de vacinação. Outros não, apesar da OMS já tê-la incluído em suas recomendações. A Aliança Covax, coordenada pela OMS, pede que todos os países autorizem a entrada de pessoas vacinadas com imunizantes que foram certificados pela entidade, inclusive a CoronaVac.
De olho na venda de vacinas e no faturamento de suas empresas, os EUA não se importam com a pandemia e mantém as restrições. Essas restrições – que são econômicas – são criticadas no mundo todo, menos por Bolsonaro.
Além de se submeter e submeter o país a uma guerra comercial que não interessa ao país entre os EUA e a China, Bolsonaro tem também outros interesses escusos.
Isso ficou evidente no caso, por exemplo, da vacina Covaxin, fabricada pela indiana Bharat Biotech. A CPI revelou um grande esquema de corrupção por trás de sua aquisição. O contrato era fraudulento, com propinas milionárias depositadas em paraísos fiscais, e, para a sua concretização, foi necessária a participação direta de Bolsonaro.
A China, por outro lado, já disponibilizou mais de 500 milhões de doses de vacinas ao mundo todo, inclusive ao Brasil, enquanto os monopólios farmacêuticos privados com sede nos EUA e Europa garantiram apenas o abastecimento de seus países e olhe lá. Como quase metade da população americana se recusa a se vacinar, eles agora começam a fornecer um número maior de doses ao mundo, não sem antes aumentar seus preços, como acaba de acontecer com a vacina da Jansen e da Moderna.