A falta de resposta de Trudeau aos arroubos de Trump para anexar o Canadá também ajudou a enterrar seu governo
Após quase uma década à frente do governo do Canadá, Justin Trudeau anunciou, na segunda-feira (6), que deixará o cargo de primeiro-ministro e renunciará à liderança do Partido Liberal nos próximos meses. A impopularidade crescente premiê é consequência do aumento do custo de alimentos e dos alugueis, além de falta de segurança, entre outros problemas. Além disso, as brigas internas dentro do partido podem ter antecipado sua renúncia.
Com a proximidade das eleições gerais, que devem ser realizadas até outubro, e com o governo de Trudeau com níveis mais baixos nas pesquisas de intenção de votos aos liberais, Trudeau não resistiu à pressão. “Vou renunciar depois que o partido eleger seu próximo líder”, disse a jornalistas na capital, Ottawa.
No pronunciamento, o premiê informou que os trabalhos no Parlamento, que deveriam ser retomados no próximo dia 27, ficarão suspensos até 24 de março. O movimento provocou uma corrida pela liderança de seu partido.
Ainda não se sabe por quanto tempo o primeiro-ministro permanecerá no cargo. Trudeau disse que a disputa pela liderança liberal será “um processo competitivo sólido em nível nacional”.
ELEIÇÃO PODE LEVAR MESES
No Canadá, diferentemente de outros países parlamentaristas, onde os líderes partidários são eleitos pelos legisladores e podem iniciar suas funções de forma imediata, eles são escolhidos por convenções especiais de liderança que podem levar meses para serem organizadas.
Um novo primeiro-ministro e líder do Partido Liberal levará seus valores e ideais para a próxima eleição”, declarou Trudeau, acrescentando: “Estou ansioso para ver esse processo se desenrolar nos próximos meses.” A decisão do premiê que atua como o 23º primeiro-ministro do Canadá desde 4 de novembro de 2015 e Líder do Partido Liberal desde 2013
Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador, disse em dezembro que o governo Trudeau estava imerso em um caos e pediu por eleições antecipadas no país. Naquele momento, o líder conservador citou a crise gerada no governo pela saída da então vice-premiê Chrystia Freeland, que também era ministra das finanças. Ao deixar os dois cargos que exercia, Freeland citou diferenças entre ela e Trudeau no tratamento das ameaças feitas pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que incluem taxas de mais de 20% sobre produtos do Canadá.
MAIS DE 60% DA POPULAÇÃO DESAPROVA O PREMIÊ
Atualmente, mais de 60% dos canadenses desaprovam sua gestão, de acordo com uma pesquisa da Ipsos. O descontentamento com suas atitudes, que antes era impulsionado pela oposição, passou a se generalizar também entre integrantes do seu próprio Partido, o Liberal, onde cresceu nos últimos meses a pressão para que ele se afastasse da liderança da legenda, a fim de evitar uma derrota acachapante nas eleições previstas para outubro de 2025, onde pesquisas apontam uma vitória por ampla margem do opositor Partido Conservador.
Nos últimos anos, o custo de vida no Canadá aumentou drasticamente, afetando principalmente os cidadãos de baixa e média renda. Os preços crescentes de aluguéis e moradia e bens de consumo também são queixas recorrentes, com muitos apontando que a política econômica de Trudeau não têm enfrentado esses problemas. Além disso, questões relacionadas ao sistema de saúde que não atende à população e à segurança pública se somam às críticas à gestão.
A queda no crescimento econômico do país nos últimos anos é atribuída ao enfraquecimento do setor de serviços e à desaceleração da indústria de petróleo e gás, bem como aos intensos lockdowns promovidos pelo governo de Trudeau durante a pandemia. Segundo o Banco Central canadense, a pressão financeira sobre as famílias está em níveis recordes, com uma média de 15% da renda comprometida com dívidas.
Trudeau assinalou que as atividades do Parlamento — que deveria retomar o trabalho em 27 de janeiro — serão suspensas até 24 de março.
Isso significa que os partidos de oposição que pretendiam votar moções de desconfiança para derrubar seu governo minoritário o mais rápido possível agora terão que esperar até algum momento em maio, já que o governo controla a agenda para a maior parte de cada sessão. Se todos os partidos de oposição votarem juntos na moção, os liberais serão derrotados e uma nova eleição será convocada.
Dessa forma, é improvável que uma nova eleição seja realizada antes de maio, no mínimo.
Quando o Parlamento for retomado, o governo terá que revelar formalmente seus planos para a nova sessão no chamado Discurso do Trono.
TRUMP AMEAÇOU IMPOR TARIFAS DE 25% AOS PRODUTOS CANADENSES
A turbulência política ocorre em um momento difícil para o Canadá no cenário internacional. O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, ameaçou impor tarifas de 25% sobre todos os produtos canadenses se o governo não conter o que Trump chama de fluxo de migrantes e drogas para os EUA — embora o fluxo para os EUA seja menor que o do México, a quem Trump também ameaçou.
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, na sua linha de absurdos internacionais, sugeriu nesta segunda-feira (6) – pela segunda vez – que o Canadá deveria se fundir com seu país, depois que o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, anunciou a intenção de renunciar.
A vontade de Trump de transformar o país vizinho no 51º estado dos EUA Canadá não é por acaso, o país é um grande exportador de petróleo e gás natural para os EUA, que também dependem de seu vizinho do norte para aço, alumínio e automóveis.
O Canadá tem 38,7 milhões de habitantes, inferior ao estado de São Paulo, distribuídos em mais de 9,9 milhões de km² — o segundo maior território do mundo, atrás apenas da Rússia.
O Partido Liberal, de Trudeau, não obteve maioria nas eleições de 2021 e precisa, desde então, compor uma coalizão com outros partidos para governar. A atual coalizão, no entanto, se enfraqueceu e ruiu, precipitando o anúncio de renúncia do primeiro-ministro.