O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, foi expulso de um evento que participava em Madri, na Espanha, nesta quinta-feira (21), após ser confrontado chamado de miliciano e assassino por um indigenista brasileiro.
O brasileiro Ricardo Rao, ex-servidor da Funai, que estava no local, levantou de seu assento durante a assembleia geral do Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e Caribe (Filac), na capital espanhola, e denunciou a política anti-indigenista bolsonarista comandada por Xavier, à frente do órgão, que acabou deixando o local.
“Este homem não é digno de estar entre vocês. Marcelo Xavier é um assassino. Este homem é um miliciano, é responsável pela morte de Bruno Pereira e de (Dom) Phillips. Você é um miliciano, bandido”, completou Rao, que também deixou a sala.
O indigenista Bruno Pereira, também ex-funcionário da Funai, e Dom, jornalista britânico, foram assassinados no Vale do Javari, no começo do mês julho, durante uma emboscada.
De acordo com matéria do Uol, o indigenista Ricardo Rao deixou o Brasil em novembro de 2019, depois de sofrer e testemunhar repetidas ameaças de morte. Rao, que atuava como agente da Funai no Maranhão, decidiu que não poderia mais ficar no Brasil.
Rao denuncia que, para fazer seu trabalho, tinha de enfrentar não apenas os criminosos ambientais, mas também a milícia e processos administrativos que, segundo o agente, se transformaram em instrumentos para silenciar e constranger os funcionários considerados indesejados.
“A milícia controla hoje a Funai. Sempre recebemos ameaças. Bruno recebeu, eu recebi e até minha mãe recebeu. Agora, a diferença é que as ameaças se cumprem. Quem faz a ameaça acha que pode matar. Afinal, o Bolsonaro falou, não é”, afirmou.
Com os órgãos de fiscalização passando por um processo de deterioração acelerado e sem confianças nas autoridades policiais locais, Rao decidiu viajar até Brasília e apresentar um informe com todas essas informações ao Conselho de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Ele relata que o órgão foi desmontado nas mãos de Bolsonaro e que a região passou a ser controlada por ameaças, milícias e mortes.
Rao entrou na Funai em 2010, no mesmo período de Bruno Pereira e hoje vive em Roma, depois de ter passado dois anos na Noruega com um status temporário de exilado. “Eu quero voltar um dia. Mas não sei como. Eu tentei fazer barulho antes. Bruno ficou e morreu”, completa Ricardo.