O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, disse que o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, mentiu ao dizer que o advogado Flávio Pansieri, representante de uma farmacêutica, era “delegado do conselho federal da OAB” em uma reunião com Jair Bolsonaro.
“É mentira que ele estava representando a OAB. Apenas eu posso representar a entidade, ou uma pessoa designada por mim. E isso não aconteceu”, disse Santa Cruz. Pansieri sequer é titular do Conselho Federal da OAB.
Flávio Pansieri é advogado de Ricardo Barros e representante do laboratório CanSino, que desenvolveu uma vacina para coronavírus, no Brasil. Ele foi levado pelo deputado líder do governo a uma reunião com Jair Bolsonaro e a outra com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A reunião com a Anvisa aconteceu no dia 30 de abril e a pauta foi a vacina da CanSino.
Felipe Santa Cruz disse que o governo Bolsonaro jamais chamou a OAB para nenhum tipo de atividade. “Jamais fomos convidados pelo senhor Presidente para nenhuma solenidade, pelo menos na minha gestão. Para grande orgulho nosso”.
O deputado Ricardo Barros foi citado, na última sexta-feira (25), na CPI da Pandemia como articulador de um esquema de corrupção no Ministério da Saúde que envolveu a compra, por R$ 1,6 bilhão, de doses da vacina indiana Covaxin, desenvolvida pelo laboratório Bharat Biotech.
A Bharat é representada, no Brasil, pela Precisa Medicamentos, com a qual Ricardo Barros tem ligação. Quando ele foi ministro da Saúde, uma empresa sócia da Precisa, a Global Saúde, deu um golpe de R$ 20 milhões e não entregou medicamentos contratados. O caso ainda está sendo investigado.
Um servidor concursado do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, disse à CPI da Pandemia que recebeu pressão de seus superiores, indicados por Jair Bolsonaro, para que assinasse um recibo irregular, que previa a entrega de 3,7 milhões de doses a menos do que as contratadas, pagamento duplicado pelo frete e envolvia uma terceira empresa, sediada em um paraíso fiscal, que não estava relacionada com o contrato.
Luis Ricardo e seu irmão, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), levaram o caso até Jair Bolsonaro, mas ele não denunciou o esquema para a Polícia Federal, o que configura crime de prevaricação.
Jair Bolsonaro chegou a dizer aos irmãos que o esquema era “coisa do Ricardo Barros”, segundo relataram.
O governo Bolsonaro tratou com celeridade a compra das vacinas Covaxin, mesmo que ela não tenha, até hoje, recebido a autorização de uso emergencial da Anvisa. Contratadas em fevereiro, nenhuma dose chegou ao Brasil.
Ao mesmo tempo, o governo ignorava dezenas de emails da Pfizer, que oferecia vacinas a metade do preço praticado em outros países.