“Aqueles que fazem as alegações devem fornecer as provas necessárias para sustentar tais alegações”, afirmou o presidente do Irã, Hassan Rouhani, rechaçando a acusação, sem quaisquer provas ou uma investigação que seja, de Washington e Riad, de que seu país está por trás do recente ataque a duas refinarias sauditas. “Não temos nada a ver com isso”, sublinhou Rouhani em entrevista coletiva na quinta-feira (26).
Rouhani disse ainda que em suas reuniões com representantes europeus nesta semana, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque, cujos países passaram a endossar a acusação como “altamente provável”, que mostrassem qualquer informação que justificasse tal declaração.
As forças do Iêmen, que a mídia ocidental chama de ‘houthis’ e que desde 2015 enfrentam a agressão saudita, as sumiram oficialmente a responsabilidade pelos ataques.
O presidente iraniano disse que os governos dos EUA e da Europa deveriam levar em conta as capacidades militares das forças iemenistas, citando o arsenal de mísseis de longo alcance.
Horas após os ataques, que causaram grandes danos à maior instalação de processamento de petróleo da Arábia Saudita e do mundo, o governo Trump atribuiu a culpa ao Irã sem exibir qualquer prova. Esta semana, os governos de Londres, Paris e Berlim endossaram em declaração a acusação vazia.
Rouhani reiterou que o Irã não entraria em negociações com os EUA, a menos que o presidente Donald Trump levantasse o embargo ao petróleo e outras sanções, cujo objetivo evidente é estrangular a economia iraniana e dobrar seu povo pela fome.
O governo Trump precisa “cessar essa política de pressão máxima” em favor do “diálogo, lógica e razão”, afirmou o presidente iraniano.
Foi Trump que retirou os EUA do acordo negociado extensamente por seu antecessor, Barack Obama, com Teerã, juntamente com os demais membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Rússia, China, França e Grã Bretanha), mais a Alemanha. Acordo que impunha a mais rígida fiscalização ao programa nuclear iraniano e vinha sendo rigorosamente cumprido por Teerã, de acordo com a Agência da ONU para a Energia Atômica (AIEA).
Perguntado se ele estava aberto a um acordo mais amplo que fosse além das questões nucleares, como Trump diz querer, Rouhani assinalou que o acordo de 2015 – conhecido como JCPOA – precisaria primeiro ser totalmente implementado como base para negociações mais amplas.
“O JCPOA não é uma forma máxima de acordo. É o que era possível em seu tempo e deve ser implementado”, afirmou.
Sobre os pretextos alegados por Trump para rasgar o tratado assinado por Obama, o presidente iraniano disse que um acordo entre países não é um menu de restaurante, em que cada um escolhe o ítem que lhe apetece.
Rouhani lamentou a omissão de Londres, Paris e Berlim quanto a prover os benefícios econômicos ao Irã estabelecidos pelo acordo de 2015, após a retirada de Washington.
“Infelizmente, quando se trata de ações, a Europa demonstrou sua falta de capacidade ou falta de vontade”, disse ele. Ainda assim, as autoridades iranianas continuarão a discutir com seus colegas europeus, acrescentou.
O presidente iraniano disse também que seu governo estaria aberto a negociações sobre uma possível troca de americanos presos no Irã e cidadãos iranianos sob detenção norte-americana. Ele lembrou que essas conversações foram bem-sucedidas com os governos anteriores e que o Irã deu o primeiro passo ao liberar um empresário libanês e um residente legal dos EUA em junho. Mas ele acusou os EUA de não tomarem medidas recíprocas.
O Irã está aberto a discutir a questão, “mas a bola está na quadra americana”, apontou Rouhani. Foi a primeira vez que o Irã retratou a libertação de Nizar Zakka como um gesto de boa vontade dirigido a Washington.