Na primeira viagem internacional realizada depois de derrotar Macri nas eleições de 27 de outubro, Alberto Fernández reuniu-se, no México, com o presidente Andrés López Obrador. Embora o encontro de cerca de hora e meia tenha sido a portas fechadas, eles divulgaram que debateram a relação entre os dois países, a integração regional e o futuro dos investimentos bilaterais que espelhem a política econômica que buscam fortalecer.
A decisão de Fernández de ir ao México em sua primeira viagem ao exterior foi apontada por especialistas como um sinal de como será sua política internacional. Foi no México, no qual se organizou o Grupo de Puebla, que se pretende constituir agora o Grupo Progressista Latino-Americano, que se define como “um espaço de reflexão e de intercâmbio político na América Latina”, segundo a declaração inicial. Líderes e dirigentes latino-americanos buscam assim neutralizar o peso de outros países da região que priorizam “administrações neoliberais”, afirma a declaração conjunta.
Em entrevista, Fernández falou sobre a atividade do Grupo de Puebla, que se reunirá nos dias 8 e 9 de novembro em Buenos Aires, mas esclareceu que se trata de uma iniciativa de líderes respeitosos da democracia e das instituições, que não se organizava contra ninguém, mas a favor de políticas que “devolvam a equidade perdida na América Latina”.
Concordaram ainda na necessidade de reativar organismos como a UNASUL e a CEPAL para revitalizar a integração regional, tão debilitada nos últimos tempos.
Por razões protocolares – se tratava de um presidente eleito e não de um em exercício -, Fernández se apresentou sozinho na conferência de imprensa posterior à reunião, ressaltando que receberá uma economia com alto endividamento feito por políticas contrárias aos interesses populares, que levaram a 40% da população abaixo da linha de pobreza. “Nenhum país se recupera na pobreza. É necessário voltar a pôr em marcha a economia argentina e verificar de que modo podemos cumprir nossas obrigações. Efetivamente queremos cumpri-las, mas não às custas de mais deterioração social”, frisou.
O presidente eleito voltou a dizer que o Fundo Monetário Internacional é corresponsável pelo estado em que se encontra a Argentina, e exigiu que se compreenda que “não se pode seguir arrochando a sociedade de nosso país”. Assinalou que a questão das tarifas públicas é um tema que deve ser revisto o mais rápido possível, desmentindo um suposto aval a novos aumentos, que chamou de “notícias falsas”. “Não pode ser que as tarifas continuem dolarizadas quando o restante da economia não o está. Isso já determinei que desde o primeiro dia deve ser revisado”, sublinhou.
López Obrador reafirmou que se pode contar com ele e seu governo para o que for necessário. “O apoio que pode dar é muito”, avaliou Fernández com base em que o México tem uma vaga no diretório do FMI e integra um mercado comum com os Estados Unidos e Canadá. Nesse cenário internacional, detalhou o brutal incremento da dívida: a mais pesada é a que o país tem em dólares, ou seja, a dívida externa, que nos anos do governo Macri passou de 36 a 72% do Produto Interno Bruto, quer dizer, exatamente o dobro. Isso em apenas três anos.
Após o encontro, López Obrador mostrou a Fernández as obras do muralista Diego Rivera expostas no Palácio Nacional, sede do Governo, nas paredes e escadarias do local. O argentino chegou com um busto de Evita Perón que presenteou a seu anfitrião.
SUSANA LISCHINSKY