Advogada dos 12 médicos que entregaram dossiê à CPI da Pandemia diz que provas são contundentes contra a operadora, que atuou com estímulo de Bolsonaro. “Obviamente tive que pedir provas, documentos. Busquei pacientes para checar as denúncias. As coisas foram acontecendo como uma bola de neve. Tudo foi duplamente checado”, assegurou
A advogada Bruna Morato, representante de 12 médicos que apresentaram um dossiê contra a operadora Prevent Senior aos senadores da CPI da Covid, afirmou ter uma série de documentos que respaldam o conteúdo do dossiê, resultado de um ano e meio reunindo as denúncias apresentadas por seus clientes e encaminhadas ao Ministério Público.
Morato, que vai depor nesta terça-feira (28) na CPI, promete apresentar à Comissão Parlamentar de Inquérito a verdade sobre as denúncias de irregularidades praticadas pela operadora de saúde no tratamento de pacientes com Covid-19.
Segundo a advogada, que atua na área de consulta jurídica e assessora médicos vinculados à Prevent Senior desde 2014, em março do ano passado, ainda no início da pandemia, os profissionais começaram a relatar as primeiras irregularidades sobre ao uso de cloroquina e outros medicamentos ineficazes.
O Ministério Público foi acionado e abriu inquérito.
“Eu também levei muito tempo para acreditar na história, para entender a história”, contou Morato em entrevista ao jornal “EL PAÍS”.
“Obviamente tive que pedir provas, documentos. Busquei pacientes para checar as denúncias. As coisas foram acontecendo como uma bola de neve. Tudo foi duplamente checado”, assegurou.
A advogada relatou ainda como a operadora de saúde vem perseguindo estes médicos há mais de um ano. Ao longo desse período, explica ela, a Prevent Senior “caçou” os profissionais responsáveis pelas denúncias, para que sirvam de exemplo aos outros. “Estão sendo perseguidos, estigmatizados e desqualificados”, disse.
O dossiê mostra como a operadora, voltada para idosos, testou em seus hospitais o chamado kit-covid – composto por hidroxicloroquina e ivermectina, entre outros medicamentos ineficazes contra a Covid-19 – em pacientes infectados sem o aval dessas pessoas ou da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).
Ou seja, esses pacientes teriam sido cobaias de um experimento ilícito.
Além disso, a seguradora também teria ocultado mortes pela doença, como forma de apresentar as melhores estatísticas de recuperação. Antes disso, no início da pandemia, a empresa chegou a acumular 30% das mortes por Covid-19 no Brasil, concentrando muita atenção negativa naquele momento.
A CPI da Covid ouviu, na semana passada, o diretor-executivo da operadora de saúde, Pedro Benedito Batista Júnior, que negou a existência de irregularidades.
Batista Júnior reclamou que os médicos denunciantes acessaram prontuários de pacientes que não eram seus, extraíram dados e divulgaram para a imprensa e para a CPI. Também afirmou que os prontuários compilados no dossiê estão incompletos e podem ter sido adulterados.
Bruna Morato contestou o diretor da Prevent Senior: “As informações foram entregues aos senadores de forma integral pelo Conselho Regional de Medicina [de São Paulo, Cremesp]”.
Os prontuários chegaram ao Cremesp porque a operadora denunciou os médicos ao conselho por supostamente terem vazado informações sobre determinados pacientes, explicou.
“São mais de 4.000 páginas devidamente apresentadas pela própria instituição, em ordem cronológica, com a evolução do dia a dia dos pacientes. Nós apenas indicamos onde estavam essas informações, para que os senadores pudessem solicitá-las ao organismo”, afirmou.
A advogada também garante que as mensagens de texto de celulares que os senadores expuseram durante a sessão com Batista Júnior foram entregues de forma integral, sem edições ou cortes.
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