![](https://horadopovo.com.br/wp-content/uploads/2021/04/prevent-senior.jpg)
Médicos que trabalharam na Prevent Senior relatam que foram obrigados a trabalhar contaminados com o coronavírus pela operadora privada de saúde. Em reportagem da Globo News, os profissionais denunciaram que sofriam pressão e assédio para prescrever medicações do chamado “kit covid”, como cloroquina, azitromicina, ivermectina e a flutamida ao pacientes ao menor sinal de sintomas da Covid-19.
A reportagem da emissora conversou com cinco médicos que trabalhavam na linha de frente do combate à Covid-19 em hospitais da operadora. Dois declararam que fizeram plantão quando estavam infectados com coronavírus. “Aconteceu algumas vezes, inclusive comigo. Eu estava com Covid, tive o diagnóstico, enviei a mensagem para o meu coordenador, avisando que estava com Covid, mandei o exame pra ele, ele pediu que eu fosse para o plantão mesmo assim para repetir esse exame lá [na Prevent Senior]”, contou um dos profissionais ouvidos.
“O exame foi feito lá também, confirmou novamente que estava com covid, mas ele pediu para eu continuar trabalhando mesmo assim. Não tinha escolha de poder ir para casa e continuei realmente trabalhando com covid”.
Conversas de aplicativos de mensagens apontam que um diretor escreveu que os subordinados deveriam receitar hidroxicloroquina e azitromicina a todos os pacientes com problemas respiratórios.
Em uma conversa de março de 2020, um membro da administração da empresa comunicou o início do protocolo com hidroxicloroquina e azitromicina. Ele orientou os profissionais a “não informar o paciente ou familiar sobre a medicação e nem sobre o programa”.
“Eu deixei de prescrever por um único dia acreditando nisso e acabei sendo chamado à diretoria com orientações bem claras de que eu deveria prescrever a medicação e o que ficava implícito era que se não prescrevesse a medicação você estaria fora do hospital. Voltei a prescrever a medicação por ter sido obrigado a prescrever. A autonomia, na verdade, é zero, você não tem escolha de deixar de prescrever. Se você não prescreve, você vai ser demitido”, relatou um dos médicos.
Outra médica afirmou que a prescrição do “kit covid” é orientação padrão. “Ao menor sinal de síndrome gripal, a orientação era que prescrevesse. Se o paciente teve uma coriza, você tinha que prescrever o kit. Bastava ter um único dia de evolução, algumas horas de evolução, paciente chegou, descreveu os sintomas, você tinha que entregar o kit. Eles contabilizavam o número de kits”, disse.
Uma terceira médica ouvida pela GloboNews confirmou o relato da colega. “Todo plantão que eu ia lá sempre tem alguém que dizia, ‘olha, eu tenho que prescrever, qualquer sintoma gripal eu tenho que passar para o paciente. Então, não tem escolha, não. É diário mesmo. Então se tinha um paciente internado, aí eu deixava uma prescrição, aí vinha alguém de cima e falava ‘não, faltou tal coisa’. Ia lá, mexia na minha prescrição e colocava outra”.
A profissional declarou que pediu demissão por não concordar com as práticas.
A emissora cita ainda prontuários médicos e outros documentos que mostram que os profissionais da operadora praticavam procedimentos vetados pelo Conselho Federal de Medicina. Entre eles, a ozonioterapia. Segundo resolução do órgão, a ozonioterapia só pode ser feita “de acordo com as normas do sistema CEP/Conep”, Comitês de Ética em Pesquisa que autorizam experimentações em humanos, e em instituições credenciadas, o que não é o caso da Prevent Senior.
A operadora Prevent Senior disse à GloboNews que nunca coagiu funcionários nem os obrigou a trabalhar doentes.