Os bolsonaristas estão satisfeitos com algumas decisões tomadas recentemente pela direção nacional do PT. A primeira delas é a abertura de processo, em nome do partido, contra Sérgio Moro, por parte do deputado Paulo Teixeira.
A iniciativa do processo petista surge no exato momento em que o Moro rompe com Bolsonaro e faz denúncias graves contra o governo. A denúncia de interferência criminosa de Bolsonaro na Polícia Federal, feita pelo ex-ministro, está sendo investigada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e a Procuradoria-Geral da República.
Apesar disso, Paulo Teixeira entrou com uma notícia-crime no MP-PR pedindo que seja aberta uma ação penal para responsabilizar Sérgio Moro por ter divulgado em 2016 uma conversa entre Dilma e Lula, o que juridicamente foi ilegal.
Essa atitude de digladiar com alguém que rompeu com Bolsonaro e luta contra seu governo faz lembrar a decisão da direção do PT, tomada em 1985, de expulsar os deputados federais Aírton Soares, Bete Mendes e José Eudes por eles terem votado em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.
Guardadas as diferenças, a discussão daquela época é muito semelhante à que ocorre hoje sobre que caminhos a oposição deve tomar para barrar Bolsonaro. Se devemos formar a frente ou combater a frente.
Naquele ano a luta era para derrotar a ditadura, agora, é para impedir a sua volta. É praticamente consenso hoje que, para não permitirmos que o fascismo seja implantado no Brasil – ideia fixa de Bolsonaro – devemos construir uma ampla frente democrática, atraindo todos os setores que, por qualquer motivo, sejam contra o seu governo.
No caso do boicote a Tancredo Neves, candidato da frente democrática em 1985 ao Planalto, o erro do PT foi mais primário ainda do que hoje, porque o então governador de Minas Gerais não tinha nem feito parte do regime. Ele era o que na época chamavam de “oposição moderada” à ditadura.
Boicotar o Colégio Eleitoral contra Tancredo naquela ocasião era de um infantilismo tão grande que só Paulo Maluf, candidato da ditadura, aplaudiu a decisão dos petistas. E note-se que para derrotar a ditadura foi necessário muito mais do que apenas se unir a Tancredo Neves.
Tivemos que atrair para a frente vários setores que haviam participado do regime, como foram os casos de José Sarney, Antônio Carlos Magalhães, Teotônio Vilela, Severo Gomes, o general Andrada Serpa, e outros.
A outra posição do PT que também está sendo comemorada por Bolsonaro foi a decisão de boicotar e atacar a frente democrática que está se formando no país para impedir os ataques de seu governo ao estado democrático de direito.
Só a título de exemplo, agora mesmo o PT de Salvador decidiu boicotar uma atuação conjunta da frente e não vai participar de uma carreata em defesa da Vida e da Democracia que vários partidos baianos de oposição programam para o próximo dia 2 de Julho como alternativa ao tradicional desfile que marca a independência do Brasil na Bahia pelas ruas do Centro Histórico.
A decisão do PT de Salvador desagradou os participantes do movimento na Bahia, criado também para não deixar que o 2 de Julho passe em branco devido às restrições impostas pela Prefeitura contra a expansão da Covid 19 em Salvador, que exigem isolamento social.
Em nota, os partidos – que vão da esquerda à direita – disseram que consideram fundamental unir forças contra um presidente da República que, embora esteja temporariamente fragilizado pelas investigações contra a família, vem demonstrando repetido desapreço pela democracia.
“Só posso entender essa postura como de um partido que quer defender esse governo anti-democrático”, protestou o vereador Henrique Carballal, do PDT, um dos organizadores da carreata na próxima quinta-feira.
Ele disse lamentar que o PT repita historicamente equívocos que vem cometendo ao longo de sua existência, como não ter participado do Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves nem assinado a promulgação da Constituinte cidadã de 1988. Neste mesmo sentido, recentemente, em entrevista, o ex-presidente Lula criticou a participação de petistas no evento organizado pelo movimento “Direitos Já”, realizado no dia 26 de junho contra o governo Bolsonaro.
SÉRGIO CRUZ