Nos dias 2 e 3 de outubro, estudantes, professores, pesquisadores e trabalhadores da Educação realizaram uma série de atos, debates e protestos contra os cortes no orçamento que ameaçam as universidades federais, o desenvolvimento científico e os investimentos na Educação Básica brasileira.
Segundo as entidades, foram realizados protestos em cidades de ao menos 20 estados brasileiros. Diversas universidades e escolas realizaram atividades de debates e aulas públicas, assim como atos de ruas por todo o país.
Os atos foram convocados pelas entidades representativas do setor como a União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Associação Nacional dos Pós Graduandos (ANPG), além de suas entidades estaduais e municipais; a Confederação Nacional dos Trabalhadores de Estabelecimentos de Ensino (CONTEE), a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC).
O presidente da UNE, Iago Montalvão, destacou que a mobilização dos estudantes garantiu o primeiro recuo do governo e a liberação de R$ 1,9 bilhão dos R$ 5,8 bilhões que foram bloqueados no orçamento do Ministério da Educação.
“Eles falam que nunca houve cortes e que a liberação já estava planejada… É uma falsidade. Não fosse a pressão da sociedade, que trouxe todo esse debate acerca da educação e que elevou a preocupação acerca disso, eles não teriam liberado nenhuma parte das verbas. Certamente teriam mantido e provavelmente aprofundado os cortes”, afirmou Iago, em entrevista ao HP.
O presidente da UNE destacou que os cortes realizados pelo governo causaram danos imensos nas universidades. “Imagine um estudante que precisa de bolsa para iniciar um projeto de pesquisa e essa bolsa simplesmente é cortada. A chance dessa pessoa abandonar a pesquisa é muito grande, mesmo com a reposição acontecendo mais tarde”, destacou.
Ele relembrou que as consequências dos cortes realizados no fim de abril serão sentidas por um muito tempo. “Tivemos também a perda de pesquisas que foram perdidas por falta de material. Vimos acontecer casos de pesquisas que preservam microrganismos a determinada temperatura, mas por falta de verba e de energia o equipamento foi desligado. Perdemos a pesquisa”, condenou.
DÍVIDAS
“As universidades adquiriram dívidas com os fornecedores para não parar suas atividades, foi a forma que elas encontraram para não paralisar. E tudo isso agora precisa ser pago, mas, mais uma vez, a verba que o governo Bolsonaro disponibiliza é insuficiente”, continuou.
“Se o governo não devolver o resto que cortou, as dívidas que as universidades adquiriram esse ano vão para o ano que vem, com o orçamento mais uma vez deficitário”, ressaltou o estudante.
Nós precisamos manter o debate para que eles liberem o restante dos recursos.
PROTESTOS
Milhares de pessoas participaram dos atos realizados nas cidades brasileiras nesta quinta-feira (3). Em São Paulo, os estudantes se concentraram no Vão Livre do MASP em repúdio aos cortes no orçamento.
O presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES), Lucas Chen, destacou que “a liberação de parte da verba que havia sido contingenciada sem dúvida é resultado das mobilizações realizadas por estudantes, professores e toda comunidade educacional”.
“Não estamos aqui debatendo a qualidade, estamos falando do mínimo para continuar funcionando. Para garantir o mínimo precisamos da liberação de toda a verba que foi cortada no inicio do ano. Pela reintegração da verba da Educação continuaremos nas ruas”, afirmou Lucas Chen.
SÃO CARLOS
Estudantes, professores e servidores das universidades públicas de São Carlos (SP) fizeram uma passeata, na manhã desta quinta-feira (3) contra o programa Future-se e o corte de bolsas de pesquisa.
Os manifestantes se concentraram no Centro Acadêmico Armando de Salles Oliveira (Caaso), na Universidade de São Paulo (USP), desde às 8h e saíram em passeata às 9h30 em direção à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Ao passarem pela rodoviária, chamaram as pessoas para participarem do ato e saíram pela avenida São Carlos, acompanhados pela Polícia Militar e agentes de trânsito. A passeata bloqueou o trânsito em alguns pontos próximo ao cemitério municipal.
Segundo o mestrando Marcelo Innocentini, um dos organizadores do ato e membro da Associação de Pós-Graduandos (APG) da UFSCar, o corte de bolsas compromete a permanência dos estudantes em São Carlos.
“Para quem é pós-graduando, a bolsa é nosso salário. A gente pesquisa, passa o dia inteiro trabalhando na universidade, leva trabalho para casa, isso quando a gente não tem que fazer um trabalho fora da pesquisa para sobreviver aqui, então sem as bolsas a gente não consegue se manter na cidade, não consegue fazer a nossa pesquisa de forma adequada.”
Na UFSCar, houve protesto em frente à reitoria pedindo para que a decisão sobre o Future-se seja debatida com a comunidade acadêmica. O Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativo da UFSCar (SintUFSCar), a APG, o Diretório Central de Estudantes (DCE) e a Associação de Docentes da Universidade Federal de São Carlos (AdUFScar) protocolaram um documento pedindo que a decisão seja votada com a participação dos grupos estudantis.
Os manifestantes não conseguiram falar com a reitora Wanda Hoffmann. A reitoria informou que ela está em Brasília.
RIO DE JANEIRO
Dois protestos agendados no Rio de Janeiro para o início da noite se uniram em uma só manifestação com milhares de pessoas. Os atos – convocados como parte do dia de mobilizações para reivindicar por Educação e contra o projeto de privatização das estatais pelo governo Bolsonaro – se concentraram em frente à Candelária, na região central. Cerca de 20 mil pessoas saíram em caminhada até o edifício sede da Petrobras.
“Há uma intensa precarização das condições de trabalho e estudo, com demissão de terceirizados nas instituições federais, redução de recursos para pesquisa e extensão, bloqueio de serviços básicos como limpeza, luz, segurança e telefone das instituições de ensino; e uma crescente ameaça de fim dos concursos públicos, entre tantos outros retrocessos que comprometem o tripé do ensino pesquisa-extensão”, afirma o comunicado emitido pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes).
SALVADOR
Nessa quinta-feira (03), em Salvador, a Greve Geral da Educação começou com o ato de posse da nova diretoria da União dos Estudantes da Bahia (UEB) e seguiu em manifestação que reuniu estudantes, professores e profissionais da educação do Campo Grande ao Campo da Pólvora.
PORTO ALEGRE
Professores, alunos e servidores de universidades federais do Rio Grande do Sul aderiram à mobilização nacional. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) informou que as faculdades de Educação, de Arquitetura e de Letras, o Instituto de Psicologia e o de Filosofia e Ciências Humanas estão fechados.
Uma caminhada iniciou pouco depois das 17h30min na Faculdade de Educação, na Rua Sarmento Leite. O grupo ostenta faixas e cartazes contra o governo e o presidente da República, Jair Bolsonaro. Uma das organizadoras do protesto é a estudante de direito Jerusa Pena. Conforme ela, a caminhada finaliza uma série de ações dos alunos para mostrar contrariedade a medidas do governo.
Na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), servidores técnico-administrativos decidiram entrar em greve. Com isso, alguns setores estão com os atendimentos suspensos de forma parcial.
Na Universidade Federal do Pampa (Unipampa) estudantes realizaram um protesto na manhã desta quarta na BR-472, em Uruguaiana, na Fronteira Oeste. Os bloqueios ocorriam de 5 em 5 minutos.
FLORIANÓPOLIS
As entradas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, amanheceram fechadas nesta quinta-feira (3). O ato foi realizado por um grupo de estudantes contra o bloqueio de recursos na educação. Segundo o Sindicato dos Professores das Universidades Federais de Santa Catarina (Apufsc), Carlos Alberto Marques, houve adesão nesta quinta-feira dos professores à mobilização nacional pela educação.
“Os estudantes estão em greve permanente. Nós por 48h. Vamos avaliar primeiramente ser o governo resolve o problema, muda de atitude. Vamos também ver nacionalmente como é que as outras universidades estão avaliando a continuidade do movimento. É lamentável o que o Governo está fazendo com as universidades com as atividades profissionais dos docentes, técnicos, com a vida dos estudantes. Nós queremos trabalhar”, disse.
BELO HORIZONTE
Os manifestantes saíram da Praça Afonso Arinos e seguem pela a avenida Afonso Pena em direção à Praça Sete. Por causa do ato, que faz parte da programação de dois dias de paralisação de professores e técnicos administrativos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) contra os cortes do Governo Federal na área da Educação.