Posse ocorreu no Palácio do Planalto e não constava na agenda oficial do presidente. Nomeação de Queiroga foi publicada na terça-feira (23), em edição extra no DOU (Diário Oficial da União)
Jair Bolsonaro empossou, na manhã de terça-feira (23), o médico Marcelo Queiroga como novo ministro da Saúde. A cerimônia foi discreta e reservada, no Palácio do Planalto, e não constava na agenda oficial do presidente. Esse procedimento é reflexo do quadro de caos que vive o País, em razão da perda de controle da pandemia.
No início da tarde, em edição extra do DOU (Diário Oficial a União) foi publicado o decreto com a nomeação de Queiroga e a exoneração do antecessor Eduardo Pazuello. Agora, Bolsonaro está às voltas com o general-ex-ministro para arrumar-lhe nova colocação.
Queiroga substitui Pazuello no pior momento da pandemia de Covid-19, com recordes sucessivos de mortes e contaminações. O Brasil já soma mais de 300 mil mortes pela Covid-19. E mais de 3 mil pessoas têm morrido diariamente.
MUDANÇA DE DISCURSO, MAS NEM TANTO
Na terça-feira (16), um dia após a indicação pelo presidente, Queiroga afirmou que era necessária a “união da Nação” para enfrentar a “nova onda” da pandemia da Covid-19.
Antes, o presidente e o ex-ministro faziam discurso contrário. Bolsonaro ia (vai) além do discurso negacionista. Confronta decisões de governadores e colide com as práticas que podem salvar vidas e evitar o colapso sanitário que muitos Estados já convivem, como uso de máscara e isolamento e distanciamento sociais.
Na ocasião, o médico cardiologista fez pronunciamento em que defendeu o SUS (Sistema Único de Saúde) e citou a importância das “evidências científicas” em futuras ações da pasta, mas sinalizou que fará gestão de continuidade.
Nesse aspecto, o novo ministro causa imensa desconfiança quando diz que vai dar continuidade ao “trabalho” do ex-ministro, pois foi isso que fez o Brasil chegar onde chegou — esse trabalho errático e negacionista da realidade do alcance e níveis de contágio da virose.
Em discurso afinado com as preocupações de Jair Bolsonaro, Queiroga se mostrou preocupado com o impacto da pandemia da Covid-19 na economia. “É preciso unir esforços do enfrentamento da pandemia com a preservação da atividade econômica”, disse o ministro.
Quem criou essa falsa contradição foi o presidente Bolsonaro. Agora está mais que evidente que enquanto não houver vacinação em massa, a economia não estará protegida e resguardada, porque os trabalhadores não terão segurança para trabalhar e produzir sem receio de contrair o “vírus da morte”.
MUDANÇA DE COMPORTAMENTO
Se Bolsonaro não atrapalhar (pouco provável), o trabalho do novo ministro poderá minorar a crise sanitária, pois Queiroga é do ramo. Está tecnicamente habilitado à pasta. Ao contrário de Pazuello, que efetivamente nunca foi o ministro da Saúde. Cumpria mero papel de preposto de Bolsonaro à frente da pasta.
Na coletiva à imprensa desta quarta-feira (24), Queiroga, ainda pouco à vontade diante do caos deixado por Pazuello, disse que a meta é triplicar a atual taxa de vacinação a curto prazo e chegar a imunizar um milhão de pessoas por dia.
NOVA EQUIPE
Queiroga disse que o presidente lhe deu carta branca para a escolha dos secretários da pasta. Ele anunciou Rodrigo Castro (funcionário de carreira do Ministério da Saúde) como secretário-executivo, Sérgio Okane (diretor-executivo do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo) como novo secretário de Atenção à Saúde.
Ele também informou a criação de secretaria específica para discutir medidas de combate à Covid-19.
QUARTO MINISTRO NA PANDEMIA
Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Marcelo Queiroga é o quarto ministro da Saúde desde o começo da pandemia de Covid-19, há pouco mais de um ano.
Antes de Queiroga, comandaram o ministério o médico e ex-deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS); o médico Nelson Teich; e o general do Exército Eduardo Pazuello. Este último, junto com Bolsonaro, é também responsável pela pandemia ter atingido os níveis estratosféricos que atingiu.
Marcelo Queiroga é natural de João Pessoa. Formado em Medicina pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba), com residência em cardiologia no Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro. Tem especialização em cardiologia, com área de atuação em hemodinâmica e cardiologia intervencionista.
Em dezembro do ano passado, Queiroga foi indicado por Bolsonaro para ser um dos diretores da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). A indicação não chegou a ser votada pelo Senado Federal.
No currículo enviado ao Senado, Queiroga informou ser diretor do Departamento de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Hospital Alberto Urquiza Wanderley, em João Pessoa, e cardiologista do Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, em Santa Rita (PB).
M. V.