Mandou suspender vacina de adolescente por ordem do chefe. Comeu pastel junto com o “mito” no meio da rua. Genocídio bolsonarista é criticado em Nova Iorque e lá foi ele socorrer o patrão com o dedo médio em riste. Como disse Natalia Pasternak: virou um Pazuello de jaleco
O comportamento patético do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, diante dos desatinos de Bolsonaro, na viagem aos Estados Unidos, para a reunião da Assembleia Geral da ONU, consolidou a imagem, construída nos dias anteriores à viagem, de que ele não passa de um Pazuello de jaleco, como disse a epidemiologista Natalia Pasternak.
Vendo-o estraçalhar um pedaço de pizza nas ruas de Nova Iorque, já no primeiro dia de viagem, depois da comitiva presidencial ter sido impedida de entrar num restaurante porque Bolsonaro não havia tomado vacina, e também porque vários deles, inclusive o presidente, não usavam máscara, já dava uma pista de que Queiroga se comportaria como um sabujo e cúmplice do “mito”.
Todos esperavam que ele usasse a sua suposta autoridade técnica e sanitária, na condição de ministro, para orientar o presidente e os demais integrantes da comitiva. Pelo menos é o que se espera de um ministro de verdade da Saúde. Mas, nada disso aconteceu.
Já antes de embarcarem para os EUA, Queiroga havia tomado a decisão unilateral, e sem nenhum embasamento técnico, de suspender a imunização de adolescentes do país. Além dos técnicos, todos os governadores protestaram contra a decisão. Em resposta à decisão, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) divulgaram posicionamento em que afirmam que não houve diálogo sobre o tema e alertam que a Câmara Técnica do Plano Nacional de Imunização nem mesmo foi informada sobre a mudança.
Pior ainda ficou a situação quando se soube depois que a ordem para suspender a vacinação dos jovens havia partido do próprio Jair Bolsonaro.
Num primeiro momento, Queiroga tentou esconder que estava obedecendo a uma ordem de Bolsonaro. Disse que a decisão de suspender a vacinação era do corpo técnico. Foi desmentido. Os médicos do Ministério da Saúde ameaçaram deixar os cargos. Depois ele inventou uma justificativa para a decisão, mas ela não se sustentou nem uma semana, a de que teria havido evento grave adverso com a vacina da Pfizer em um adolescentes. A notícia foi de pronto desmentida.
O repúdio do corpo técnico do Ministério e da própria Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) contestando o ministro, levaram-no a admitir que a ordem da suspensão das vacinas aos jovens partiu mesmo de Bolsonaro. E diante disso, ele, assim como fez Pazuello, baixou a cabeça e obedeceu.
Depois o próprio Bolsonaro confirmou. “A minha conversa com o Queiroga não é uma imposição. Eu levo para ele o meu sentimento, o que eu leio, o que eu vejo, o que chega ao meu conhecimento”, acrescentou.
O que havia “chegado até o seu conhecimento” foi a pregação da ex-jogadora de vôlei e bolsonarista, Ana Paula Henkel, que passou os últimos dias fazendo campanha contra a imunização da faixa etária de 12 a 17 anos. Os posicionamentos da ex-atleta sobre o assunto foram vistos por Jair Bolsonaro no programa “Pingos nos is”, da TV Bandeirantes, e repercutidos por seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
“O que fazer com os governadores que não respeitaram sequer o PNI? Porque começaria ontem a vacinação para crianças e adolescentes. Esses governadores são responsáveis por efeitos adversos que essas crianças possam ter. Eles começaram um plano de imunização sem o aval da Anvisa, que apenas liberou a vacina da Pfizer para crianças e adolescentes. Esses governadores começaram o plano bem antes e com outras vacinas. Agora a responsabilidade será de quem?”, questionou Ana Paula, em sua cruzada antivacina.
A microbiologista Natália Pasternak, que começou a chamar Queiroga de “Pazuello de jaleco”, afirmou que a justificativa de Queiroga para suspender a aplicação dos imunizantes é “de cair o orifício retal das nádegas”. E garantiu: “Os adolescentes não correm risco nenhum. A vacina da Pfizer é segura, foi aprovada pela Anvisa e a FDA [uma agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos]. Está sendo usada no mundo inteiro”.
Agora, depois dos protestos vindos de todos os lados, o governo foi obrigado a voltar atrás. Foi autorizada a imunização dos jovens e Queiroga saiu ainda mais desmoralizado de todo esse episódio.
Esta havia sido a gota d´água para que a opinião pública brasileira começasse a ver em Queiroga uma figura e um comportamento muito parecidos com a covardia do “ele manda e eu obedeço” que marcou a passagem de Eduardo Pazuello pelo Ministério da Saúde.
Foi por isso que a médica Natália Pasternak chamou Queiroga de “Pazuello de jaleco”. Ele já havia cedido às insanidades de Bolsonaro quanto ao uso de máscara. Andou repetindo a baboseira de que não adiantava nada a sua utilização. Agora, depois dos vexames na viagem aos Estados Unidos, acabou de consolidar de vez essa sua imagem de bajulador e carreirista.
O ponto alto da subserviência de Queiroga ao “mito” foi a sua reação aos protestos de brasileiros contra o negacionismo de Bolsonaro nas ruas de Nova Iorque. A patética mão do ministro, dentro do veículo da delegação, com o dedo médio em riste, dirigindo-se aos manifestantes, acabou de arrancar de vez a única máscara da delegação: a que Queiroga vinha usando desde que assumiu.
Não bastasse tudo isso, o ministro da Saúde ainda foi obrigado a ficar preso no hotel em Nova Iorque por 12 dias, depois de se infectar por Covid-19. Não só ele se infectou, mas também Eduardo Bolsonaro e outros integrantes da comitiva. De nada adiantaram os alertas, feitos pelo prefeito de Nova Iorque, Bill de Blasio, de que a delegação estaria colocando em risco a si própria e a população da cidade ao se locomover para vários lugares sem máscaras e sem comprovação de vacina. Já infectado, o ministro e Bolsonaro aglomeraram diversas vezes na cidade se de ONU.