“O que eles apontam como minha casa, é o meu escritório político, conforme mostram claramente os recibos pagos pelo meu chefe de gabinete.” “Ontem tentaram intimidar o Presidente Omar Aziz, hoje sou eu. A CPI não vai parar!”
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) tem se notabilizado nos trabalhos da CPI da Covid ao desmontar uma por uma todas as artimanhas dos governistas usadas para esconder o propinoduto ligando o Planalto à compra de vacinas. Nesta terça-feira (13) ele ironizou os bolsonaristas que há algum tempo queriam incendiar o Supremo Tribunal Federal (STF) e, agora, usam o mesmo STF, que eles xingavam, para se calar nos depoimentos na CPI.
O senador não deixou por menos a tentativa ridícula da milícia de Bolsonaro de atacá-lo com uma fakenews sobre uma suposta “rachadinha” envolvendo seu chefe de gabinete, Charles Chelala.
Os bolsonaristas espalharam que o funcionário pagava aluguel da casa e despesas pessoais do senador. Procurado, Randolfe afirmou que o próprio comprovante demonstra não haver “rachadinha”. “É a primeira vez que se fala de um crime e postam a prova da inocência”, ironizou o senador.
Ele espalharam que o imóvel localizado na Avenida Procópio Rola, 2326, era a residência de Randolfe e que o recibo do aluguel estava em nome de Chelala. Os ataques começaram após a atuação do senador na CPI da Covid em defesa da prisão do ex-diretor do Ministério da Saúde, Roberto Dias, e pela defesa da instalação de outra comissão de inquérito para apurar as denúncias de que o presidente Jair Bolsonaro recolhia dinheiro de funcionários enquanto era deputado.
Os bolsonaristas afirmam que o chefe de gabinete de Randolfe estaria transferindo parte de seu salário ao senador. Os comprovantes mostram, no entanto, que Charles Chelala efetuou pagamentos de serviços prestados ao gabinete em nome de Randolfe. O nome do parlamentar aparece como pagador no comprovante distribuído.
Ao contrário da invenção bolsonarista, o endereço na Avenida Procópio Rola não é a casa do senador. O imóvel é listado como escritório de apoio na página do parlamentar no Senado e pelo partido Rede no Facebook.
“Sou chefe de gabinete do Senador Randolfe. Entre minhas funções está o pagamento de aluguel e contas do escritório regional do mandato, que funciona no Amapá”, afirmou Chelala no Twitter.
“Eu efetuo pagamentos, presto contas ao Senado Federal, entrego os comprovantes referidos e tudo é publicado no portal da transparência”, escreveu. “Todos os gastos são legais, transparentes e auditáveis, conforme Ato do Primeiro Secretário n.5-2014”.
De fato, todos os senadores têm direito a uma Cota de Exercício da Atividade Parlamentar. Uma das despesas que pode ser ressarcida por meio dessa verba é o “aluguel e manutenção de imóvel destinado à instalação de escritório de apoio à atividade parlamentar”.
“A tentativa de nos igualar aos que fazem da coisa pública uma forma de enriquecimento ilícito é facilmente reconhecida. Não funcionará conosco e não nos intimidará!”, disse Chelala.
Randolfe também rebateu as invencionices. “Como forma de tentar intimidar, tentam nos igualar aos bandidos que fazem rachadinha e roubam dinheiro público. Aqui não! Sabemos que estamos chegando perto do que eles temem. A CPI não vai parar! Vamos continuar pelo povo brasileiro!”, escreveu.
Na página de Randolfe, estão disponíveis os mesmos recibos que foram compartilhados nas redes sociais. Um exemplo de boleto de aluguel da Avenida Procópio Rola e o comprovante com o nome de Charles Chelala. O portal do Senado também lista pagamentos do mesmo aluguel feitos pela conta do próprio senador.
A invenção da milícia de Bolsonaro não podia ser outra. Rachadinha é uma especialidade da família. Fabrício Queiroz ficou famoso por ser o operador das rachadinhas nos gabinetes de Flávio Bolsonaro e de Jair Bolsonaro. Uma de suas filhas era funcionária fantasma no gabinete de Jair Bolsonaro.
A rachadinha é uma prática criminosa de desvio de dinheiro público. Se caracteriza pela exigência – e recebimento – de uma parcela da remuneração do funcionário público ocupante de cargo em comissão, por parte do seu superior hierárquico, ou melhor, por parte daquele que tem a competência para essa contratação.
Nas investigações sobre os crimes de rachadinha da família Bolsonaro, o Ministério Público do Rio descobriu, por exemplo, que a família de Adriano da Nóbrega, chefe de milícia e pistoleiro profissional, era lotada no gabinete de Flávio Bolsonaro e ajudava na lavagem de dinheiro desviado da Assembleia Legislativa do Rio. Outra descoberta é que Fabrício Queiroz depositou 21 cheques, no valor total de R$ 89 mil, na conta de Michelle Bolsonaro, a primeira-dama do país.
Recentemente áudios da ex-cunhada de Bolsonaro Andrea Siqueira Valle trouxeram novamente à tona acusações de rachadinha no antigo gabinete do presidente na Câmara dos Deputados. Dados obtidos via quebra de sigilo bancário e fiscal já apontavam indícios da prática. A devolução indevida pode configurar crime de peculato. Esse delito ocorre quando servidor se apropria ilegalmente de verba pública.