Jair Bolsonaro assinou decreto, na quarta-feira (26), incluindo as igrejas e as lotéricas como atividades essenciais. O pretexto para esta medida é que os governadores teriam “exagerado” nas medidas de isolamento social.
Não é verdade.
Se levarmos em conta as consequências que a omissão das autoridades provocou à população da Itália e da Espanha, diríamos que essas medidas no Brasil são tímidas. Em alguns lugares na Europa a multa a quem desobedecer a ordem de ficar em casa é de 10 mil Euros.
Ninguém está impedindo as atividades essenciais e nem barrando a circulação de mercadorias pelas estradas.
É evidente que as aglomerações em cultos religiosos neste momento não são recomendáveis. Até o Vaticano fechou suas portas. Pastores evangélicos sérios também defendem as medidas preconizadas pelo Ministério da Saúde.
O pastor Henrique Vieira, da Igreja Batista do Caminho no Rio de Janeiro disse que “como pastor, sei que os cultos fazem falta, sinto saudade nesse momento. Cada religião tem seu espaço de encontro, que é muito precioso para a vida das pessoas. Contudo, a fé precisa ser zelosa, responsável e mediada pelo amor. É uma atitude de bom senso e de amor evitar encontros coletivos nesse momento, pois isso pode salvar vidas. O essencial é preservar a vida das pessoas. Portanto, considero esta medida do presidente irresponsável e inconsequente, marcada por certa hipocrisia”.
Os cultos estão sendo feitos remotamente e muita gente está orando de casa. Juntar pessoas nas igrejas hoje é decretar a morte de milhares de fieis.
Estimular a formação de filas nas lotéricas para garantir o jogo numa hora destas também não parece ser uma boa ideia. Então, por que Bolsonaro editou esse decreto? As pressões para que as pessoas saiam de casa estão vindo da bolsa de valores, como denunciou o presidente da Câmara Federal, deputado, Rodrigo Maia. Querem que o povo morra para garantir seus lucros.
A decisão de Bolsonaro é também uma maneira de afrontar os governadores que, em seus estados, estão seguindo as orientações do Ministério da Saúde e da OMS, de manter o isolamento social como forma de combater a propagação da epidemia.
Não só os governadores, mas, mais de 100 países em todo o mundo estão impondo as mesmas medidas. Em muitos deles, como vimos, de forma mais radical do que no Brasil.
Hoje estão em isolamento 2,6 bilhões de pessoas em todo o planeta. As olimpíadas de Tókio foram adiadas. Tudo isso mostra a seriedade com que as autoridades estão tratando este problema. Jair Bolsonaro está em total discrepância com o resto do mundo.
A posição de Bolsonaro, de deixar a população à mercê do vírus, para supostamente defender a continuidade das atividades econômicas, além de desumana, é totalmente ineficiente.
Todos os países, inclusive o que ele gosta de imitar, estão injetando bilhões, e até trilhões, de dinheiro público para garantir as atividades econômicas. Teimosos, Bolsonaro e Guedes resistem a tomar medidas neste sentido.
Pelo contrário, eles querem aproveitar a crise para reduzir salários de servidores, estrangular estados e municípios e estimular as demissões. Até as privatizações eles querem manter numa situação como esta. Terão, é óbvio, que ser parados.
Os EUA acabam de anunciar um pacote de R$ 10 trilhões de reais para defender sua economia. É o maior pacote de salvamento da história. É assim que eles agem. O governo brasileiro tem que parar de querer matar sua população e liberar logo os recursos que são necessários para enfrentar a crise.