De acordo com o princípio diplomático da reciprocidade, a China ordenou aos EUA na manhã de sexta-feira o fechamento do consulado norte-americano em Chengdu, no sudoeste do país. Na terça-feira, abruptamente, o governo Trump determinou o fechamento do consulado chinês em Houston, no Texas, em 72 horas.
Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que “os EUA violam seriamente o direito internacional, as normas básicas das relações internacionais e prejudicam gravemente a relação China-EUA.”
O princípio da reciprocidade é aquilo que, nos meios literários, é popularmente conhecido por “olho por olho”.
O fechamento do consulado de Chengdu foi determinado por Pequim, após Washington ignorar as conclamações a que reconsiderasse o fechamento unilateral do consulado chinês de Houston, que foi o primeiro aberto após a instauração das relações entre os dois países, longo processo iniciado ainda pelo presidente Nixon.
Com a calamitosa resposta do governo Trump se tornando a questão central das eleições presidenciais de novembro à medida que está ocorrendo uma recidiva da pandemia nos EUA, o presidente reality-show vem buscando freneticamente arrumar um bode expiatório.
Daí as acusações racistas de que o vírus “é chinês” ou que Pequim “comprou a OMS” virando tema central dessa manobra.
FRENESI
O frenesi de provocações contra a China ocorre quando os EUA – já recordista mundial em contágios e mortes – atingem a marca dos 4 milhões de casos de Covid-19, e a cientista Deborah Birx, que faz parte da comissão anticoronavírus da Casa Branca, advertindo que agora são “três nova yorks”, se referindo à dimensão dos surtos simultâneos na Flórida, no Texas e na Califórnia.
À cruzada racista contra a China no terreno da pandemia – onde, ao contrário dos EUA, a ação do governo foi exemplar, convocando todos a se unirem em uma ‘guerra popular científica’ e pondo sob controle a covid – se somam as perorações sobre a “perfídia chinesa”, que “rouba a propriedade intelectual” norte-americana e as “pesquisas da vacina”.
Inclusive a alegação do Departamento de Estado para o fechamento do Consulado da China em Houston foi exatamente essa. Imputações repelidas por Pequim, que as classificou de “malignas” e com o “único objetivo de difamar a China.”
BOCA DE URNA DE POMPEO
Também como parte da estratégia eleitoral do governo Trump, o ex-diretor da CIA e atual chefe do Departamento de Estado, Mike Pompeo, passou a fazer profissão de fé anticomunista quase diariamente.
Isso se encaixa no discurso de Trump de que “a esquerda radical” está tomando conta das ruas das cidades norte-americanas e pondo em risco a lei e a ordem, e que o democrata Joe Biden será um joguete deles.
Na visita desta semana a Londres e Copenhagen, Pompeo acusou o “Partido Comunista Chinês” de “matar britânicos” com a pandemia e de “roubar propriedade intelectual, não só americana, mas também europeia, há muito tempo”. O que custaria, segundo o macarthista de plantão, “centenas de milhares de empregos, por toda a Europa e Estados Unidos, roubados pelo Partido Comunista chinês”.
Outras provocações recentes contra a China incluíram a aprovação de leis extraterritoriais de interferência em Hong Kong e Xinjiang, o envio de dois porta-aviões nucleares ao Mar da China do Sul, o palpite sobre um tratado marítimo do qual não é signatário, nem parte interessada no caso, e a proibição a partir de setembro do fornecimento por empresas dos EUA de semicondutores à gigante chinesa das telecomunicações, a Huawei.