Mesmo com repressão policial e pressão do governo paranaense, os metalúrgicos da Renault mantêm a greve, que já completa dez dias na unidade de São José dos Pinhais.
Os metalúrgicos pedem a abertura de negociação sobre reajuste salarial, a renovação da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e a suspensão de mais de 2 mil demissões, mas a empresa tem se negado a negociar.
“Queremos resolver via negociação, mas para isso a empresa precisa cessar as pressões e retomar as tratativas com o Sindicato”, afirma Sérgio Butka, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Grande Curitiba (SMC). “Fechamos o acordo por quatro anos, numa conjuntura. Mas as condições mudaram, a inflação voltou com força”, ressalta.
A empresa chegou a acionar a Polícia Militar para dispersar uma assembleia da categoria que acontecia em frente à fábrica, nesta terça-feira (17). Um dos dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos foi detido e denunciou pelas redes sociais que sofreu ameaças de policiais.
Alceu Luís dos Santos, que é trabalhador da Renault, foi detido por mais de uma hora dentro de um camburão e relatou que foi ameaçado por policiais que faziam a escolta. O sindicalista estacionava seu carro próximo à entrada da empresa e iria se dirigir ao caminhão de som para falar aos trabalhadores.
“Me prenderam por conta da luta que estamos fazendo. Tive meus direitos violados aqui”, denuncia Alceu, em vídeo. “Eu estava chegando, parando o carro, e a polícia chegou de forma truculenta já me tirando do carro. Depois, sem que eu entendesse o motivo, me levaram para o camburão. Eu cheguei a dizer que era advogado do sindicato e me mandaram calar a boca e inúmeros outros xingamentos, me ameaçando”, relatou. (Veja aqui o vídeo).
Para Butka, a repressão policial é uma tentativa de repetir o modelo usado na ditadura militar, quando era comum a polícia escoltar os ônibus, tentando fazer o operário entrar para trabalhar.
De acordo com o Sindicato, cerca de 4.500 trabalhadores estão de braços cruzados. Só entram na empresa cerca de 100 funcionários de setores essenciais.
Nesta quinta-feira, os funcionários da montadora realizam uma nova assembleia, a partir das 14h, em frente ao complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais, região Metropolitana de Curitiba.
Centrais: “Todo apoio a greve da Renault no Paraná”
Em nota, as centrais sindicais divulgaram manifesto em apoio ao movimento dos metalúrgicos da Renault e repudiaram a violência cometida contra os trabalhadores,
“Manifestamos total apoio aos trabalhadores em greve da Renault de São José dos Pinhais-PR e repudiamos a repressão e violência da Polícia Militar do Paraná, que ao pressionar e intimidar os trabalhadores, violam o direito de greve, que é garantido na Constituição Federal”.
“O Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba tem buscado negociar uma proposta decente de PLR, recuperação salarial e de manutenção dos empregos. Mas a Renault, não só se esquiva do diálogo como utiliza da força policial do governo do Estado para reprimir a mobilização dos trabalhadores. Ação que tem se mostrado, além de inconstitucional, inócua, já que os trabalhadores aderiram à paralisação e se mostram dispostos a manter a greve até conseguirem um bom acordo”.
“As reivindicações dos trabalhadores são justas, e nós das Centrais Sindicais nós somamos ao Sindicato, ao exigir que a empresa cesse toda forma de pressão, abra um diálogo democrático para negociação, apresente uma proposta que atenda as reivindicações dos trabalhadores”, afirmam as centrais.
A nota é assinada por Sergio Nobre, Presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Miguel Torres, Presidente da Força Sindical, Ricardo Patah, Presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Adilson Araújo, Presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Oswaldo Augusto de Barros, Presidente da NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores), Antônio Neto, Presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), Atnágoras Lopes, Secretário executivo nacional da Central Sindical CSP-Conlutas, Nilza Pereira, Secretária-geral da Intersindical Central da Classe Trabalhadora, Emanuel Melato, Coordenador da Intersindical – Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora e José Gozze, Presidente da Pública Central do Servidor.