Aparelho desenvolvido por pesquisadores da Poli-USP mostra-se eficiente e barato e revela alta capacidade dos centros de pesquisas nacionais. Em apenas 100 dias o aparelho foi projetado e desenvolvido. A fabricação será feita pelo Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP)
Começa nesta quinta-feira (16) a segunda fase de testes dos respiradores batizados com nome de “Inspire”, de baixo custo, desenvolvidos por um grupo de engenheiros da Escola Politécnica (Poli) em parceria com a Faculdade de Medicina, ambos da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo os criadores do projeto, o respirador pode ser fabricado em 2 horas e custará entre R$ 5 mil e 10 mil. Os aparelhos comerciais e importados mais baratos custam entre R$ 70 mil e R$ 250 mil.
A USP pretende doar respiradores para hospitais do SUS e instituições filantrópicas
Nesta fase serão testados em 40 pacientes com Covid-19 internados no Incor. Os aparelhos permanecerão em funcionamento nas 24 horas do dia pelas próximas quatro semanas.
Segundo o Dr. Marcelo Zuffo, um dos coordenadores do projeto, agora “serão testes clínicos muito mais rigorosos e exaustivos, inclusive com pacientes com Covid, junto aos médicos da Faculdade de Medicina da USP e do Incor”.
Os respiradores serão testados diretamente em pacientes do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor) e ficarão ligados 24 horas por dia. Até então, os testes mantinham ligados os equipamentos apenas três horas por dia.
“Há 100 dias não tínhamos nada. É um designe do zero e é um equipamento de suporte à respiração de uso transitório extremamente complexo e de suporte à vida, então, os testes e as certificações neste caso precisam ser extremamente rigorosas porque pessoas dependerão deste equipamento para manterem-se vivas”, argumentou o professor Zuffo.
Após a conclusão desta fase, serão feitos os ajustes finais, caso necessários, e os respiradores poderão ser utilizados em larga escala. A Universidade de São Paulo pretende doar aparelhos para o SUS e entidades filantrópicas.
O aparelho foi criado em menos de 4 meses por uma equipe de 200 pesquisadores para suprir a necessidade de respiradores durante a pandemia de coronavírus. Cerca de 800 doadores contribuíram com cerca de R$ 7 milhões para o desenvolvimento do projeto.
A fabricação será feita pelo Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), que é ligado à USP. A universidade poderá produzir 10 respiradores por dia. “Estamos correndo contra o tempo, desde o início da pandemia e esperamos que as últimas certificações sejam concluídas em semanas”, diz o professor.
“Estamos correndo contra o tempo, desde o início da pandemia e esperamos que as últimas certificações sejam concluídas em semanas”, diz o professor Marcelo Zuffo
Em coletiva com o governo estadual de quarta-feira (15), o diretor da divisão de pneumologia do Incor, Carlos Carvalho, adiantou que essa segunda fase de testes deve ser concluída nas próximas três ou quatro semanas.
Depois, serão feitos os ajustes, caso necessário, e a partir daí, os ventiladores poderão ser utilizados em larga escala. Espera-se para os próximos dias a liberação da Anvisa para que esta produção em larga escala seja possível.
A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa já autorizou os testes nos 40 pacientes do Incor.
Carvalho acrescentou que os respiradores mecânicos são fundamentais para equipar as Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e salvar vidas. “Se me falassem eu nunca imaginaria que nós conseguiríamos um ventilador mecânico nacional em um curto espaço de tempo”, disse.
“Em quatro meses utilizando conceitos de fisiologia, de medicina e a aplicação dos conceitos da engenharia, está aqui, hoje, em quatro meses, um ventilador que tem capacidade para substituir os ventiladores mecânicos que temos tido que importar em um passado recente para poder salvar vidas”, afirmou o pesquisador.
O engenheiro Raul Gonzalez Lima, engenheiro coordenador de um grupo de cerca de 40 pessoas que estão envolvidas na iniciativa, afirmou que “os respiradores têm agregado um conteúdo resultante de 20 anos de pesquisas na área pulmonar e de uma cooperação entre várias unidades da USP, incluindo a Faculdade de Medicina, que contribuiu com o desenvolvimento e testes nos leitos.
A faculdade de Engenharia da Poli desenvolveu, por sua vez, o desenho mecânico, o desenho eletrônico, todo o software de controle, o circuito ventilatório, toda a documentação de certificações, os testes de qualidade, a logística e a manufatura.
“Nosso projeto oferece as funcionalidades consideradas necessárias ao tratamento da Covid-19 aliadas à simplicidade e à velocidade de manufatura”, diz, ao explicar que as peças que constituem o equipamento, na sua maioria, podem ser adquiridas no mercado de fabricantes nacionais. Algumas se encontram em estoques e em distribuidores.
“Este conjunto de medidas facilitará a montagem dos ventiladores”, informa o engenheiro. “Procuramos no mercado um fabricante do componente ou quem tenha ele em estoque. Por exemplo, o componente chamado motor de passo foi encontrado em estoque e em quantidade significativa”, acrescentou Lima.
SÉRGIO CRUZ
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