A ONG Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) negociou, em nome do governo Bolsonaro, a compra de vacinas com uma empresa dos Estados Unidos comandada por um ex-policial acusado de corrupção.
Mensagens obtidas pela Folha de S.Paulo mostram que a Senah falava em nome do governo brasileiro e afirmava à empresa International Covid Solutions Corp., que foi fundada em janeiro, que havia interesse de comprar os imunizantes, sendo que nem mesmo foi provado que realmente existiam.
A empresa tem sede no bairro Queens, em Nova York, mas seu endereço oficial é ocupado por um escritório. A reportagem da Folha foi até o local e lá foi informado que a sede da empresa era em outro local, alguns quilômetros de distância.
O outro local é ocupado por um cinema de bairro, cujo dono é o mesmo da Internacional Covid Solutions Corp., Rudranauth Toolasprashad, conhecido como Rudy.
Rudy era policial em Nova York e chegou a ser afastado das atividades externas por suspeita de corrupção em um escândalo nos anos 2000.
Em fevereiro, a International Covid Solutions disse à Senah que conseguiria entregar 4 milhões de doses da AstraZeneca, mesmo com a empresa tendo informado que não vendia vacinas por atravessadores. A empresa pediu um termo de compromisso do governo brasileiro, o que não foi entregue.
Em maio, a Senah disse à International Covid Solutions que iria se reunir com o governo Bolsonaro e que havia interesse oficial para a aquisição das vacinas. A Senah pediu uma prova de que as vacinas realmente existiam, o que não foi apresentado.
A Senah é presidida pelo reverendo Amilton Gomes de Paula, que deverá depor na CPI da Pandemia na terça-feira (3) por ter participação na negociação de compra de 400 milhões de doses da AstraZeneca junto à Davati Medical Supply.
Nessa negociação, o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, pediu a distribuição de propina de US$ 1 para cada dose contratada. Ou seja, Roberto Dias pediu uma propina para o governo Bolsonaro de US$ 400 milhões.
A Senah foi quem colocou os representantes da Davati em contato com o alto escalão do Ministério da Saúde, inclusive o ex-secretário executivo Élcio Franco.
O representante da Davati e policial militar em Minas Gerais, Luiz Dominghetti, que reafirmou à CPI que recebeu o pedido de propina, confirmou que a Senah conversava com o chefe da empresa International Covid Solutions, o Rudy.
“A Senah tinha esse contato e conversas com ele. Sei que ele [Rudy] tinha oferecido vacinas à Senah, segundo o reverendo [Amilton]. Mas não participei de nenhuma tratativa”, continuou.