‘Revisão Nuclear’ de Biden aumenta risco de uma “catástrofe atômica global”

Bomba nuclear que EUA lançou sobre Hiroshima (Arquivo)

Recém anunciada ‘Revisão’ da política nuclear trazida por Biden “não faz nada para tirar o mundo da beira da catástrofe global” ao não abrir mão de fazer ataque nuclear preventivo, assinalou o portal norte-americano

Apenas algumas semanas depois que o presidente dos EUA, Joe Biden, alardeou o “risco de Armagedom” diante do conflito na Ucrânia, “seu governo divulgou na quinta-feira uma Revisão da Postura Nuclear (NPR) que os defensores da não-proliferação dizem que não faz nada para tirar o mundo da beira da catástrofe global”, assinalou o portal norte-americano Common Dreams.

A “Postura Nuclear” é o documento oficial dos EUA sobre sua política para a guerra nuclear, e é periodicamente atualizada. Embora a declaração formal da estratégia nuclear dos EUA “afirme da boca para fora” – a observação é do portal – a necessidade de limitar a disseminação e impedir o uso de armas atômicas e cancele um programa de mísseis da era Trump, “o documento deixa claro que o país avançará com os planos de uma modernização perigosa e cara – e deixa intacta a opção de um primeiro ataque nuclear”.

“A NPR de Biden redobra a abordagem de segurança do status quo que diz que todos devemos estar preparados para morrer em menos de uma hora”, advertiu o portal progressista norte-americano.

Segundo o documento, “modernizar as forças nucleares dos EUA é a chave para garantir aos aliados que os Estados Unidos estão comprometidos e são capazes de deter a gama de ameaças que a estratégia nuclear dos EUA aborda”.

O documento do Pentágono caracteriza a “Rússia e a China” como perigos nucleares “maiores e crescentes” para os EUA. Na verdade, o único arsenal que empata em porte com o de Washington é o da Rússia, enquanto o arsenal chinês é muito menor e comparável em dimensão ao britânico e ao francês.

A revisão – destaca o portal – deixa claro que as autoridades dos EUA consideraram e rejeitaram as políticas de “sem primeiro uso” e de “propósito único” que impediriam os EUA de lançar um ataque nuclear preventivo ou usar uma arma atômica em resposta a um ataque não nuclear. O documento afirma que tais políticas “resultariam em um nível de risco inaceitável”.

Posição que contradiz a declaração de Biden durante a campanha presidencial de 2020 de que “o único objetivo do arsenal nuclear dos EUA deve ser dissuadir – e, se necessário, retaliar – um ataque nuclear”.

Aliás, artigos dos think tanks ligados ao Pentágono desde a saída dos EUA do Tratado Antimíssil (ABM) nos anos 2000 vivem teorizando sobre como fazer um “ataque de decapitação”, ou seja, afagam a delirante ideia de “vitória na guerra nuclear”, o que já vem acontecendo há duas décadas.

“DOCUMENTO ATERRORIZANTE”, DIZ CIENTISTA

Para Stephen Young, representante sênior em Washington da União de Cientistas Preocupados, a Revisão da Postura Nuclear (NPR) do governo Biden é “um documento aterrorizante” que “não apenas mantém o mundo em um caminho de risco nuclear crescente, como de muitas maneiras aumenta esse risco.”

“Citando ameaças crescentes da Rússia e da China”, observou Young, o NPR “argumenta que a única resposta viável dos EUA é reconstruir todo o arsenal nuclear dos EUA, manter uma série de políticas nucleares perigosas da era da Guerra Fria e ameaçar o primeiro uso de armas nucleares armas em uma variedade de cenários.”

“Em vez de reconhecer essa ameaça e procurar encontrar maneiras de acabar com ela, a NPR de Biden aposta na dissuasão nuclear e na abordagem de segurança do status quo que diz que todos devemos estar preparados para morrer em menos de uma hora”, denunciou Young.

No artigo, Common Dreams cita o novo discurso do presidente russo Vladimir Putin, em que este enfatiza que não tem a intenção de usar armas nucleares, assinalando que “não há sentido nisso, nem político nem militar”.

A advertência de Putin quanto a ameaças de uso de armas nucleares contra a Rússia – a mais notória delas, a da então primeira-ministra britânica Liz Truss, que aliás passou à história com o alcunha de ‘a brevíssima’ -, em que disse que “a rosa dos ventos poderia mudar de direção”, foi deturpada na época para servir de pretexto para Biden ameaçar o planeta com o “Armagedom”.

Ainda conforme o portal, o NPR de Biden ocorre quando os temores de um conflito nuclear permanecem altos.  Um dia antes da declaração citada acima de Putin, o presidente russo supervisionou exercícios nucleares [previamente programados e comunicados a Washington], “menos de duas semanas depois que a Otan começou seu próprio ensaio para a guerra atômica que ameaçaria a sobrevivência da humanidade”.

Para Jessica Sleight, do Global Zero – um movimento que defende a eliminação total das armas nucleares, “ao contrário das ditas intenções do presidente Biden de reduzir o papel das armas nucleares, esta Revisão da Postura Nuclear continua décadas de exacerbação, duplica os programas de armas desnecessários e não avança nas adiadas reformas da política e da postura que tornariam os Estados Unidos, seus aliados e o mundo mais seguros”. E, ao final e ao cabo, fortalecem “os falcões nucleares que subestimam os riscos crescentes da instabilidade e escalada da corrida armamentista nuclear”.

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