O líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), criticou a burocracia imposta pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a liberação das vacinas contra a Covid-19. Segundo Barros, os diretores da Anvisa estão “enganando” a população, “fora da casinha” e “nem aí” para a pandemia.
O ex-ministro da Saúde do governo Temer se referia aos entraves impostos pela Anvisa após a retirada da exigência da realização no Brasil da fase 3 de testes dos imunizantes. A medida, em princípio, facilitaria o uso emergencial da vacina russa Sputnik V, que está sendo trazida ao país a partir de uma parceria do Instituto Gamaleya, da Rússia, com o laboratório brasileiro União Química.
Artigo publicado na revista científica “Lancet” apontou que a vacina russa Sputnik V possui uma eficácia comprovada de 91,6%. Até agora, a Anvisa autorizou o uso emergencial de duas vacinas para aplicação no Brasil, a CoronaVac e a AstraZeneca/Oxford. Porém, rejeitou até mesmo analisar os pedidos para o estudo da fase 3 da Sputnik V no Brasil.
Segundo Barros, apesar de retirar a obrigatoriedade da fase 3, os diretores da Anvisa, “colocaram um monte de exigências”. A agência atualmente é dirigida por Antonio Barra Torres, um fiel seguidor de Bolsonaro.
“Estão fora da casinha, não sabem que estamos numa pandemia, que precisamos de coisas urgentes, que precisamos facilitar a vida das pessoas. É só exigência. Não é possível que tenha 11 vacinas aprovadas em agências no mundo inteiro e nós só temos duas, e eles não estão nem aí com o problema”, afirmou o líder do governo.
Barros criticou ainda a falta de agilidade da Anvisa e questionou quem os diretores da agência “querem enganar”.
“A Anvisa precisa estabelecer normas compatíveis com a emergência. Normas de segurança, eficácia e agilidade. Ela está só na segurança e na eficácia e agilidade nenhuma, zero. Nem aí com o problema. Cada dia inventam mais exigência. Hoje mesmo tiraram a fase três e colocaram mais dez gravetos no lugar. Querem enganar quem? Estão achando que sou trouxa?”.
Barros disse que vai “enquadrar a Anvisa”. “Estou trabalhando. Eu opero com formação de maioria. O que eu apresentar para enquadrar a Anvisa passa aqui (na Câmara) feito um rojão”, avisou Barros. “Eu vou tomar providências, vou agir contra a falta de percepção da Anvisa sobre o momento de emergência que nós vivemos. O problema não está na Saúde, está na Anvisa. Nós vamos enquadrar.”
ENQUADRAMENTO
Em resposta a Barros, o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres questionou: “Que enquadramento é esse que o deputado se refere? Ele está no dever de formalizar uma denúncia no canal competente ou se retratar. Acho que para ele não tem mais outra saída: Ou ele denuncia ou se retrata”.
Barra Torres afirmou que jamais recebeu pressão do presidente Jair Bolsonaro ou de emissários do Palácio do Planalto para aprovar alguma vacina. Para ele, a frase de Barros “destoa” e é um “desserviço aos esforços nacionais de combate à pandemia. As pessoas estão com dificuldade de entender em quem confiar. Fica uma guerra de versões. Agora vem o líder do governo dizendo que vai enquadrar a agência reguladora, afirmou.0
O presidente da Anvisa disse que o líder do governo não tem poderes para “enquadrar” o órgão.
Segundo Barra Torres, a declaração deixou técnicos do órgão “indignados”. “Dizer que os servidores da agência estão ‘nem aí’ para a pandemia? Tivemos colegas nossos que morreram. São pessoas que estão trabalhando para salvar vidas. Hoje, infelizmente, profundamente entristecidos pelo que foi feito pelo líder do governo. Este mal já está feito”, declarou.
RESPOSTA
Desafiado pelo presidente da Anvisa a “denunciar ou se retratar”, além de ter sido repreendido pelo presidente Jair Bolsonaro, Ricardo Barros não precisa se retratar por ter dito que é necessário “enquadrar” a agência.
“Não preciso me retratar. O Congresso toma a sua decisão, estabelece as regras e a Anvisa cumpre as regras. Temos a prorrogativa de alterar as decisões da Anvisa. Podemos fazer isso por meio de medidas provisórias”, disse o deputado.
Ricardo Barros ainda afirmou que o presidente da Anvisa “está enganado”. De acordo com o parlamentar: “Não há denúncia, estamos tomando medidas”.
O parlamentar ainda frisou que a agilidade da vacina é uma necessidade. “Só se fala disso, principalmente agora com os novos presidentes da Câmara e do Senado”.