O Ministério das Finanças da Rússia anunciou em 6 de abril que havia liquidado em rublos uma dívida em dólares após a recusa de um banco estrangeiro em fazer o pagamento em dólares, em decorrência das sanções ilegais instauradas pelo Tesouro dos EUA, incluindo o sequestro de reservas russas.
“Um banco estrangeiro se recusou a executar instruções” para pagamento de US$ 649,2 milhões com vencimento em 4 de abril, disse o ministério em comunicado, dizendo que, portanto, foi “forçado a apelar a uma instituição financeira russa para fazer os pagamentos necessários […] na moeda da Federação Russa”.
A Rússia “considera que cumpriu integralmente suas obrigações”, enfatizaram funcionários do Ministério das Finanças russo na terça-feira (5).
Sob as sanções de Washington, os bancos estrangeiros recusaram os pagamentos de títulos em dólares para vencimentos em abril e cupons de notas com vencimento em abril de 2042, deixando a Rússia sem escolha, como observou seu Ministério das Finanças, a não ser enviar rublos ao Depósito Nacional de Liquidações.
“Reservas significativas [localizadas] em Estados estrangeiros foram bloqueadas; se esse congelamento continuar e as transferências para pagar nossas dívidas com esses fundos congelados também forem bloqueadas, a gestão das dívidas poderá ser feita em rublos. Se isso for impossível, um padrão de pagamento pode ser declarado em teoria, mas é um padrão completamente artificial. Não há razão para um calote real”, reagiu o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Ele reiterou que “a Rússia tem todos os meios necessários para administrar suas dívidas”.
Antes desse pagamento, a Rússia já havia oferecido aos credores para recomprar suas dívidas e pagá-las antecipadamente em rublos, uma medida que permite que os credores russos obtenham seu dinheiro sem as complicações ligadas às sanções, mas também às autoridades por terem que pagar menos dólares.
EUA VIOLOU CONTRATOS
A agência ligada aos especuladores Bloomberg lamuriou-se que “nenhum” dos títulos permitiria à Rússia a opção de pagar em rublos, mas se tivesse o mínimo de coerência teria de registrar que as sanções violam quaisquer contratos existentes.
“A questão da inadimplência é complicada”, admitiu Abdul Kadir Hussain, chefe de gerenciamento de ativos de renda fixa da Arqaam Capital, com sede em Dubai. “A Rússia pode alegar que estamos dispostos a pagar, temos dinheiro para pagar, mas os bancos não nos deixam pagar. Não tenho certeza de como os tribunais lidariam com isso.”
No início deste ano, S&P Global e Fitch disseram que considerariam a Rússia como inadimplente se satisfizessem os pagamentos em notas em uma moeda diferente da acordada, levando os investidores a investir em swaps de crédito e ler as letras miúdas em cerca de US$ 40 bilhões em contratos.
Em 1998, quando da ‘crise da Rússia’, que se seguiu à ‘crise da Ásia’, o governo do primeiro-ministro Evgeni Primakov decretou moratória e o problema passou a ser dos especuladores.