A insana campanha de Bolsonaro e de seu lugar-tenente no Ministério da Saúde, Marcelo Queiroga, contra a imunização das crianças encontrou forte resistência em São Paulo e no Rio de Janeiro.
O governador João Dória (PSDB) e o prefeito Eduardo Paes (PSD) manifestaram-se publicamente em oposição à exigência dos receituários médicos que o governo federal quer impor para estender a vacinação a essa faixa etária da população brasileira.
“Não vacinar crianças é crime abominável. Dificultar a vacinação de crianças deveria ser crime inafiançável”, afirmou Dória ao portal Uol, acrescentando que “não há patamar aceitável de óbitos para crianças Isso é crime. Vacinas salvam crianças e adultos. Salvam até os loucos negacionistas”.
Por sua vez, o gestor fluminense, através de seu perfil no Twitter, recorreu ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ao afirmar que a capital carioca também não pedirá prescrição no processo de imunização do público infanto-juvenil.
“Aqui não vai precisar de atestado para vacinar crianças não. Vejam o que diz o parágrafo primeiro do art. 14 do ECA”, sustentou o prefeito. O ECA estabelece que “é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”.
As manifestações do governador do principal Estado da federação e do prefeito da segunda maior cidade do país ocorrem após Queiroga afirmar que a (des)administração federal deve requisitar prescrição médica e a assinatura de um termo de consentimento pelos pais para vacinar crianças de 5 a 11 anos, exigência inexistente para a imunização de outras faixas etárias da população.
Com isso, Doria e Paes somam-se à recente nota emitida pelo Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) pela qual os gestores estaduais asseguram que nenhum Estado exigirá prescrição médica para a vacinação infantil contra a covid-19. O posicionamento foi tomado após reunião do presidente do órgão, Carlos Lula, com secretários de Saúde de diversos estados.
CONSULTA PÚBLICA DISSIMULA RESISTÊNCIA À IMUNIZAÇÃO DAS CRIANÇAS
A resistência da pasta da Saúde é oferecida dissimuladamente através de consulta pública aberta hoje (25) em seu portal oficial para que a população opine sobre a imunização em crianças de 5 a 11 anos. Aliás, a informação corrente é de que, horas após a abertura da consulta, o formulário já apresentou instabilidade e impediu que usuários interagissem.
SUPREMO NO ENCALÇO DOS NEGACIONISTAS
Já o Supremo Tribunal Federal estabeleceu limite para que o governo se manifeste sobre a vacinação das crianças: 5 de janeiro, enquanto, na outra ponta, o ministro Alexandre de Moraes deu 48 horas para que o governo preste informações sobre as graves e odiosas ameaças aos integrantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, denunciadas pelo seu presidente, Antônio Barra Torres, por terem avalizados a imunização dos menores.
O STF deu até 5 de janeiro para o governo se manifestar sobre vacinação de crianças. Num movimento incomum, e mesmo com aval e a recomendação da Anvisa e da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI Covid-19), a vacinação de crianças passará por consulta pública, aberta pelo Ministério da Saúde, até 2 de janeiro. Os resultados da consulta e de audiência, a ser realizada pelo ministério em 4 de janeiro, também devem ser apresentados no próximo mês.
’PAZUELLO DE JALECO’ MINIMIZA MORTES DE CRIANÇAS
“Óbitos de crianças estão dentro de patamar que não implica em decisões emergenciais. Isso favorece que o ministério possa tomar decisão baseada na evidência científica de qualidade, na questão da segurança e da eficácia”, afirmou Queiroga, já conhecido como ‘Pazuello de jaleco’, recorrendo de forma absurda a dados divulgados pela Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI Covid-19), segundo a qual 301 crianças de 5 a 11 anos morreram de covid-19 desde o início do surto da doença até 6 de dezembro.
“Essa é a faixa etária em que se identifica menos óbitos em decorrência da covid-19. Cada vida é importante. Nós lamentamos por todas as vidas. Agora, o Ministério da Saúde tem que tomar as suas decisões com base nas evidências científicas”, afirmou o ministro, na esteira negacionista de seu chefe, Bolsonaro.
PIOR, MUITO PIOR QUE NA DITADURA
Criado em 1973 e instituído como lei em 1975, o PNI (Programa Nacional de Imunizações) é a política pública mais importante para controle e erradicação de doenças infecciosas no Brasil nas últimas quatro décadas.
Formulado na época da ditadura militar, o PNI nasceu impulsionado por outra epidemia de doença infecciosa no país —no caso, a meningite, que o governo se esforçou para esconder enquanto pode.
Porém, ao contrário do discurso antivacina, a ditadura apostou e investiu na imunização de crianças e adultos para conter não só a meningite, como também expandiram para outras doenças infecciosas no país.
Mais um sinal de que o insano que habita o Planalto e seu sabujo no Ministério da Saúde conseguem ser piores, mas muito piores que os ditadores que Bolsonaro tanto venera.
(MAC)