“Seguiremos atentos a todos os desdobramentos das investigações, exigindo justiça”, disse Alessandra Sampaio, viúva do jornalista inglês Dom Phillips, assassinado no Vale do Javari, no Amazonas, durante velório neste domingo em Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Familiares e amigos de Dom se reuniram no cemitério Parque da Colina para se despedir do jornalista, que será cremado.
“Seguiremos atentos a todos os desdobramentos das investigações, exigindo Justiça no significado mais abrangente do termo. Renovamos nossa luta para que nossa dor e da família de Bruno Pereira não se repita, como também a de outras famílias de jornalistas e defensores do meio ambiente que seguem em risco. Seguem em risco. Descansem em paz, Bruno e Dom”, disse Alessandra.
O velório foi acompanhado pela família brasileira e britânica do jornalista, além de amigos e ativistas. Alessandra agradeceu ao empenho dos envolvidos nas buscas dos corpos do marido e do indigenista Bruno Pereira, à imprensa e aos povos indígenas.
“Agradeço imensamente a imprensa e aos amigos jornalistas que têm sido fundamentais nos esforços de apuração do caso, na cobrança por transparência nas investigações e na mobilização que permitiu que chegássemos todos até aqui. Eu também agradeço de coração a todas as pessoas que se solidarizaram com Dom, com Bruno, com nossas famílias e amigos, aqui no Brasil e em outros países”, agradeceu Alessandra.
Segundo Alessandra, Dom “será cremado no país que amava”.
“Hoje, Dom será cremado no país que amava, seu lar escolhido Brasil. O dia de hoje é de luto. Dom era uma pessoa muito especial, não apenas por defender aquilo que acreditava como profissional, mas também por ter um coração enorme e um grande amor pela humanidade”, disse em pronunciamento.
A irmã do jornalista, Sian Phillips, também fez um pronunciamento e disse que ele foi morto por tentar contar ao mundo as histórias sobre a floresta e seus moradores. Alessandra, os irmãos de Dom: Sian Phillips, Gareth Phillips e o cunhado Paul Sherwood (marido de Sian); se abraçaram no final do pronunciamento, sob aplausos de todos os presentes. A cerimônia de despedida foi restrita aos familiares e amigos.
Os corpos de Bruno e Dom foram encontrados a 3 km do rio Itaquaí, em Atalaia do Norte, em uma área de igarapé. Eles foram identificados após a Polícia Federal levar um dos suspeitos de envolvimento no crime ao local das buscas, onde apontou o ponto da mata em que ocultou os corpos.
Bruno Pereira foi cremado na sexta-feira (24) no Cemitério e Crematório Morada da Paz, em Recife, Pernambuco, onde nasceu. Indígenas da etnia Xucuru, da Serra do Ororubá, em Pesqueira, no Agreste de Pernambuco, participaram da cerimônia de despedida de Bruno. Eles entoaram cânticos quando entraram no cemitério Morada da Paz e emocionaram os presentes.
“Oh, meu irmão, oh, irmão meu. Cadê o meu irmão que não vem brincar mais eu?”, cantaram os Xucuru enquanto balançavam seus instrumentos de percussão. O cântico continuou quando se aproximaram do caixão de Bruno.
INVESTIGAÇÃO
Até o momento, quatro pessoas suspeitas de participação no crime foram presas. Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”, confessou ter cometido o crime e indicou o local onde os corpos haviam sido enterrados. O irmão dele, Oseney da Costa de Oliveira, também foi preso.
No dia 18, Jefferson da Silva Lima foi preso em Atalaia do Norte e, segundo depoimento, confessou ter ajudado na ocultação dos corpos. Cinco dias depois, na quinta-feira (23), Gabriel Pereira Dantas se entregou à polícia em São Paulo. Ele disse ter pilotado a canoa que Amarildo usou na execução do crime.
A PF ainda não concluiu o inquérito. Perguntas como: Quem mandou matar Dom e Bruno e por quê?, ainda não tem respostas.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a área em que a dupla navegava é “palco de disputa entre facções criminosas que se destacam pela sobreposição de crimes ambientais, que vão do desmatamento e garimpo ilegal a ações relacionadas ao tráfico de drogas e de armas”. Até o momento, a investigação da PF chegou a três suspeitos —apenas o pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, confessou a autoria no duplo homicídio. Segundo a polícia, ele havia admitido ter jogado os corpos em uma parte da mata do Vale do Javari, esquartejado e ateado fogo. No entanto, nesta semana, voltou atrás e afirmou não ter participado do homicídio.
O indigenista e o jornalista foram vistos na região pela última vez no dia 5 de junho. Os restos mortais foram encontrados em 15 de junho. No dia seguinte, foram levados para Brasília, onde os corpos foram periciados e identificados pelo Instituto Nacional de Criminalística.