“Será que ministros e secretários de Saúde de 56 países do mundo que estão recomendando o afastamento social, o isolamento e as medidas respaldadas na medicina e na ciência, estão todos errados?”
O governador de São Paulo, João Dória (PSDB), anunciou nesta segunda-feira (06) a prorrogação da quarentena no estado até o dia 22 de abril. “Nenhuma aglomeração de nenhuma espécie em nenhuma cidade ou área do estado de São Paulo será admitida. As Guardas Municipais ou Metropolitanas deverão agir”, afirmou. “Isso é constitucional, não é uma deliberação que pode ou não ser seguida. Ela deve ser seguida por todos os municípios do estado”, completou.
João Dória voltou a criticar a postura irresponsável do presidente Jair Bolsonaro sobre como o país deve enfrentar a grave crise provocada pelo coronavírus. Bolsonaro tem se chocado com todo o mundo científico e com a comunidade médica ao defender que a população seja exposta ao contágio com o coronavírus porque ele acha isso necessário para “resolver logo o problema” e porque, segundo Bolsonaro, essa epidemia não passa de uma “gripezinha”.
“Será que a ciência mundial está errada?”, indagou Dória. “Será que a Organização Mundial da Saúde está errada? Será que ministros e secretários de Saúde de 56 países do mundo, que recentemente fizeram uma conferência com o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, recomendando o afastamento social, o isolamento e as medidas em que cada um desses países vinha adotando, respaldado na medicina e na ciência, estão todos errados? Será que um único presidente da república no mundo é o certo?”, acrescentou o governador.
Segundo estudos científicos, entre eles os do Imperial College de Londres, que fez o primeiro ministro inglês, Boris Johnson, agora internado na UTI, mudar de opinião (ele também achava que a Covid-19 era uma gripezinha), apontam que se a concepção de Boslonaro, de deixar a epidemia se desenvolver livremente, tivesse predominado, cerca de um milhão de brasileiros poeriam morrer.
Antes do anúncio da ampliação da quarentena, o secretário estadual de Saúde, José Henrique German, e o coordenador de testes de coronavírus, Dimas Tadeu Covas, afirmaram que sem a adoção de medidas de isolamento social, como a suspensão de aulas e a recomendação de que a população fique em casa, o cenário previsto seria de 5 mil mortes no estado até o dia 13. “Sem essas medidas que temos tomado, no sentido de fazer um isolamento das pessoas, pelos cálculos, seriam 10 vezes mais casos do que os 4600”, afirmou Henrique German.
A coletiva de imprensa desta segunda teve a presença do infectologista David Uip, que retornou dos 14 dias de isolamento, após ter testado positivo para o coronavírus. Uip reassumiu a coordenação do Centro de Contingência do Coronavírus. Durante a coletiva, ele fez um depoimento sobre seu enfrentamento da doença. “Eu agradeço à Deus por estar aqui vivo, segundo à minha família, especialmente à Tereza, meus filhos, netos e genro pela solidariedade”, disse.
A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo informou neste domingo (5) que o estado chegou a 275 mortes relacionadas ao coronavírus. São 15 óbitos a mais que o registrado no boletim divulgado neste sábado (4).
O boletim do Ministério da Saúde afirma que São Paulo concentra 77% das hospitalizações por problemas respiratórios com confirmação para Covid-19 em todo País. São 1.724 internações registradas até este domingo (5). Em todo o País, o número de mortos pela Covid-19 chegou a 486 pessoas, totalizando 11.130 casos confirmados, segundo o boletim diário do Ministério da Saúde.