A primeira sensação ao receber a notícia de sua morte foi de incredulidade. No fundo, não queria acreditar, aceitar, mas a ficha foi caindo até que veio a matéria do Carlos Lopes na Hora do Povo e, depois, a nota da presidenta Luciana Santos. A cada parágrafo, uma emoção e incontida lágrima.
Conheci Sergio Rubens há 45 anos atrás, não exatamente como Sergio Rubens, em razão do nome de guerra que usava na clandestinidade.
Passou a ser para mim e, tenho convicção, para toda uma geração de militantes do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) uma permanente referência, como revolucionário e como ser humano.
Desde que soube de sua partida, tentei encontrar palavras para expressar o sentimento de alguém que, como tantos outros, teve a honra de conviver com Sergio Rubens ao longo dessa caminhada.
Difícil, muito difícil, conseguir traduzir o que Sergio Rubens representou para nossa geração e, certamente, continuará representando, mesmo para aqueles que não o conheceram.
Arrisco-me, todavia, elencar algumas entre suas incontáveis qualidades: inteligência rara, perspicácia e fino humor, capacidade incomum de síntese, humildade e generosidade, imensa grandeza e cultura revolucionária, teórica e prática, firmeza inabalável na defesa da verdade e da vida, capacidade incomum de pensar à frente, na tática e na estratégia, liderança real e natural, e, acima de tudo, compromisso com o seu coletivo, o povo e a Humanidade.
Agora, recentemente, voltei a conviver mais frequentemente com ele, ainda que à distância, na edição da Hora do Povo.
Sergio não tinha hora para se dedicar à luta e à causa revolucionária.
Muitos foram os dias em que, mesmo de madrugada, ficávamos horas tratando de um determinado assunto que, invariavelmente, ramificava-se em tantos outros, pois raro era o tema que meu querido camarada não dominava – e com profundidade.
Sempre saia mais revigorado dessas conversas, inclusive naquelas em que ele tecia suas críticas, mesmo as mais ácidas, diante da certeza de que as fazia pelo compromisso que tinha com o crescimento ideológico de cada um de nós e do coletivo – e dele próprio, como dizia.
Em um dos nossos últimos contatos, eu que esperava tratar de alguma questão política ou editorial do jornal, deparei-me com uma pergunta dele sobre meu estado de saúde, pois recebera, por outro camarada, a notícia de um problema que havia me acometido.
Quis saber detalhes da situação e do tratamento proposto, concluindo a conversa com uma advertência: “camarada, nossa luta não pode prescindir de ninguém… se cuide!”, ao que secundei, como sempre, perguntando sobre sua saúde… Lembro-me que, muito recentemente, falou-me, animado, da evolução do seu tratamento, algo intrinsicamente ligado à nova fase da luta antifascista à qual Sergio estava se preparando como aquele soldado que se revigora a cada novo desafio apresentado pela realidade, por mais difícil que seja.
Assim era Sergio Rubens: generosidade e compromisso sem limites com cada um e com todos ao mesmo tempo!
Uma perda imensa para cada um dos que o conheceram e conviveram com ele, mas, sobretudo, uma perda extraordinária para a luta revolucionária pela dimensão que Sergio Rubens alcançara como um dos seus líderes e artífices.
Partiu um amigo, um companheiro, um camarada, um guia, para mim!
Nossos profundos sentimentos à Júlia, sua esposa, e aos filhos Janaína e Bernardo.
O único lenitivo para o momento é a convicção de que ele continuará vivendo em cada um de nós e em nossa luta, e a certeza de que a morte de um revolucionário da estatura e dimensão de Sergio Rubens já nos cobra um esforço redobrado para honrar sua memória, seu exemplo e seu legado.
É isso que ele fez quando outros tantos partiram, antes, e é isso que faremos, agora, quando teremos que seguir sem a sua presença física, mas mais presente do que nunca em nossas mentes e corações!
VIVA SERGIO RUBENS!!!
SERGIO RUBENS, SEMPRE PRESENTE!!!
Marco Antônio Campanella