Dados de uma pesquisa do Sindicato dos Servidores de Nível Superior do Poder Executivo do Estado do Rio Grande do Sul (Sintergs), em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica do Estado (PUC-RS), mostram que apenas 3% dos funcionários públicos com curso superior são negros. De acordo com a pesquisa, 5,7% são pardos e 0,3% indígenas.
Os dados fazem parte de estudo realizado com 366 associados ao Sintergs que serviram de base para cartilha lançada em outubro. Brancos chegam a 91%.
Para a diretora do Sintergs, Ângela Antunes, “a baixa representatividade de negros no serviço público, especialmente em cargos de nível superior, demonstra a dificuldade de acesso à educação de qualidade. E deve servir de reflexão neste 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra. Por isso a importância de questionar a desigualdade e assumir que há privilégios em ser branco. Esse é o primeiro passo para a mudança”.
“Entender a necessidade das cotas, da dívida histórica do Brasil com os afrodescendentes e indígenas e desmistificar a meritocracia, como se todos tivessem acesso às mesmas condições, é fundamental”, avalia Ângela.
De acordo com Ângela, o Dia Nacional da Consciência Negra tem sua raiz em solo gaúcho no Grupo Palmares, em Oliveira Silveira, Antônio Carlos Côrtes e outros militantes negros e negras.
Para a servidora Beatriz Viegas Cunha, Engenharia Civil pela PUCRS, servidora estadual há 20 anos, negra, afirma que a garantia de cotas é fundamental, tanto para a formação, quanto para o ingresso no serviço público.
“Às vezes, olham para mim e dizem que as cotas não são necessárias: se tu conseguiste, outros também conseguem. Mas um dos meus anjos, homem preto que conseguiu meu primeiro estágio, não se formou. Faltou suporte familiar e econômico. Meus pais abriram mão de conquistas para eu me formar, eu abri mão. Meu pilar era de madeira, não era de concreto. Não havia estrutura, por isso a necessidade de reparação”, disse Beatriz.
Formada como aluna destaque da turma de 1993, Beatriz começou sua trajetória na Secretaria de Educação e hoje atua na Secretaria de Obras. Desde que ingressou no serviço público, a profissional tem consciência de seu papel para ajudar a melhorar a vida das pessoas. “O posto de saúde vai para a comunidade preta, a escola estadual vai para a comunidade preta”, conta, motivada pelo trabalho que realiza.
Beatriz afirma que o enfrentamento ao racismo é cotidiano e que este se manifesta nas estruturas e relações dentro do serviço público como possibilidade de ascender a determinados espaços ou não.
“Minha posição não é de inferioridade, mas estou atrás até de quem entrou agora. Vejo que colegas brancas que fizeram faculdade já chegam em patamar superior, mesmo eu ganhando financeiramente mais, elas têm mais acesso. Tive de ser melhor do que homem branco e que mulher branca, ser a melhor das melhores, pois, além de ser mulher, sou preta”, diz Beatriz.