A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu um dos sócios do PCS Lab Saleme, Walter Vieira. O laboratório é apontado pelo governo fluminense como responsável pelo erro em laudos de órgãos infectados por HIV.
Na manhã desta segunda-feira, agentes realizam a Operação Verum, que tem como objetivo cumprir 11 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão no Rio de Janeiro e Nova Iguaçu, onde a empresa tem sede. Alguns deles foram cumpridos na sede, que precisou ser arrombada pelos policiais. O local está interditado desde a última quinta-feira (10) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
De acordo com as primeiras informações, outras três pessoas também são procuradas pela Operação Verum, realizada pela Delegacia do Consumidor (Decon).
Foram presos o médico ginecologista Walter Vieira, um dos sócios do laboratório, e o responsável técnico pelos laudos, Ivanilson Fernandes dos Santos. Gabriele Pereira, advogada de Ivanilson, assim como Afonso Destri, defensor de Walter Vieira, afirmaram que só irão se posicionar após terem conhecimento do inquérito.
O técnico de laboratório Cleber de Oliveira Santos e a técnica em patologia clínica Jacqueline Iris Bacellar de Assis estão foragidos. O advogado de Jacqueline, José Félix, no entanto, afirmou que ela irá se entregar.
Jacqueline afirmou à Folha que começou a trabalhar no local como supervisora administrativa em outubro de 2023, não assinava os testes e, segundo as informações divulgadas, seu nome estaria sendo usado como “laranja”.
Apurações da GloboNews e do G1 apontam que o sócio Walter Vieira, responsável técnico do laboratório, teria assinado um dos laudos com o falso negativo para a contaminação de HIV em órgãos encaminhados para transplante.
De acordo com a Polícia Civil, as investigações indicam que os laudos foram “falsificados por um grupo criminoso” e induziram equipes médicas “ao erro, o que levou à contaminação dos pacientes”. “Um dos pacientes veio a falecer, com as causas da morte ainda sob investigação”, disse a polícia em nota.
“Diversas diligências complementares estão sendo realizadas para identificar toda a cadeia de profissionais envolvidos nesse esquema criminoso, e todos serão responsabilizados na medida de sua respectiva culpabilidade”, completou a Decon.
Os advogados do laboratório negaram as acusações e afirmaram que “a defesa de Walter e Mateus Vieira, sócios do PCS Lab Saleme, repudia com veemência a suposta existência de um esquema criminoso para forjar laudos dentro do laboratório, uma empresa que atua no mercado há mais de 50 anos. Ambos prestarão todos os esclarecimentos à Justiça”.
Dr. Luizinho, ex-secretário de Saúde, está sendo investigado. Ele ocupou o cargo entre fevereiro e setembro de 2023. O político é filiado ao Progressistas (PP) e está no segundo mandato como deputado federal. Walter Vieira, ginecologista, obstetra e responsável técnico do laboratório, é tio do deputado.
O laboratório PCS Lab Saleme afirmou, também em nota no domingo (13), que os resultados preliminares de uma investigação interna indicam que um erro humano levou à infecção por HIV em seis pessoas que receberam transplantes de órgãos no Rio de Janeiro.
Os envolvidos podem ser indiciados por crime contra as relações de consumo, associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e infração sanitária.
O PCS Lab Saleme, laboratório que está sob investigação por emitir laudos com falsos negativos para HIV no Rio de Janeiro, operava com redução do controle de qualidade para obter lucro, disse André Neves, diretor-geral do Departamento de Polícia Especializada do Rio, nesta segunda-feira (14).
“Houve uma quebra no controle de qualidade para a maximização do lucro, deixando de lado os reagentes que precisam ser analisados sistematicamente”, afirmou em entrevista coletiva a jornalistas.
Segundo o delegado, houve uma determinação para que a análise dos reagentes, que deveria ser diária, passasse a ser semanal. “Assim, diminuíram o controle e assumiram, com essa lacuna, o risco de uma falha”, acrescentou.