A sonda espacial israelense Bereshit (“No começo”, como é denominado em hebraico o “Gênesis”, primeiro livro do Antigo Testamento) esborrachou-se na Lua no dia 11, após levar quase dois meses – ao invés de dias das naves antecessoras de outros países – para chegar até o satélite natural da Terra.
Como registrou a CNN, “lamento dizer que nossa nave espacial não chegou à Lua em uma só peça”, disse Opher Doron, gerente da divisão espacial das Indústrias Aeroespaciais de Israel, associada, no infausto empreendimento, à empresa privada SpaceIL.
O local em que agora existe um amontoado de sucata é o Mar da Serenidade. No momento da falha das comunicações, a sonda estava a 120 quilômetros do local de pouso previsto.
“Existe a suspeita de que não aterrissamos na Lua da melhor maneira”, assinalou candidamente um membro da equipe da SpaceIL, que monitorava a sequência desde a central de controle de Yehud, no centro de Israel. “Estamos tratando de aclarar o assunto”, acrescentou.
EXPLORAÇÃO ESPACIAL ESTILO UBER
A sonda israelense, que o Clarin comparou, em termos de dimensões, a uma máquina de lavar, havia partido no dia 22 de fevereiro de Cabo Canaveral, na Flórida, a bordo de um foguete norte-americano Falcon 9, da Space X, na carona da carga principal, um satélite de comunicações indonésio e uma aeronave experimental norte-americana.
“Esta é uma exploração espacial ao estilo Uber”, disse em entrevista coletiva na véspera do lançamento o engenheiro Yonatan Winetraub, co-fundador da SpaceIL, que se apresenta como uma organização sem fins lucrativos que apoia a missão espacial israelense.
A SpaceIL surgiu originalmente para participar do concurso Google Luna, XPRIZE Competition, lançado em 2015, que propunha colocar na Lua um veículo espacial não tripulado da iniciativa privada, e que foi cancelado em 2018.
Tendo reunido US$ 100 milhões de dólares de vários doadores, a SpaceIL seguiu em frente com a aposta, com cobertura do regime e da indústria aerospacial estatal israelense.
Na falta de um foguete potente para empurrar até a Lua a sonda espacial, a nave sucessivamente assumiu órbitas mais longas até ser capturada pela gravidade da Lua e se mover para órbita lunar em 4 de abril. Razão pela qual a Bereshit percorreu mais de 15 vezes a distância da Terra à Lua, de 380.000 km.
PANES
A primeira avaliação é de se tratou de falha no motor principal, nos momentos decisivos das manobras de pouso, e talvez panes na comunicação. O motor é de fabricação inglesa, da empresa Nammo, cujo engenheiro chefe, Rob Westcott, disse que “nunca havíamos utilizado o motor para esse tipo de uso antes”.
Como ele explicou, o desafio era que o motor teria que estar ligado e ficaria muito quente, o que acarretava que precisava ser brevemente desligado, para ser acionado de novo, na manobra crucial de freada na aproximação ao solo.
Antes, já haviam ocorrido outras panes: o sistema de rastreio de estrelas, crucial para a navegação espacial, se mostrou extremamente susceptível de ser cego pela radiação solar. No mês passado, o computador sofreu uma reinicialização inesperada.
SELFIE ADIADA
A sonda, antes de se espatifar, enviou uma foto da superfície lunar, que servirá de consolo para os projetistas, na falta da esperada selfie da própria sonda na Lua. A SpaceIL assevera que a nave faria, ainda, estudos do campo magnético lunar e que levava um espelho da Nasa para medições mais precisas da distância Terra-Lua.
Na parte coloquial de encenação, a Bereshit levava uma ‘cápsula do tempo’, com hino de Israel, canções em hebraico, desenhos de crianças e testemunho do Holocausto, cuja cópia foi antecipadamente presenteada ao presidente Reuven Rivlin. Haverá uma segunda sonda à Lua, prometeu o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que, do centro de Yehud, assistiu ao esfrangalhamento em primeira mão.